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31 janeiro 2021

Árvores começam a dar frutos no Pantanal após queimadas e animais são vistos se alimentando; veja antes e depois

Antes e depois das queimadas em reserva no Pantanal de MT — 
Foto: Jeferson Prado/Sesc Pantanal

OPINIÃO: A Mãe Natureza é generosa e dadivosa...... Pelos animais sobreviventes que dependem dela, se aprontou em velocidade para alimentá-los..... Por isso que amo tudo que não seja vindo do tal  "serumano".....
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Árvores que servem de alimentos para animais do Pantanal mato-grossense começaram a dar frutos na maior Reserva Particular do Patrimônio Natural do país (RPPN), Sesc Pantanal, após 93% da área ser queimada pelo fogo em 2020. Acuri, canjiqueira, jatobá, bocaiuva, jenipapo, figueira e marmelada, fontes naturais de alimentação de animais como araras, queixadas e o maior mamífero terrestre da América do Sul, a anta, já frutificam na região.

De acordo com o Sesc Pantanal, no Dia Nacional das RPPNs (31), os primeiros sinais de recuperação na unidade de conservação, deixam pesquisadores otimistas, mas cautelosos diante dos impactos em longo prazo dos incêndios florestais no bioma. Em 2020, o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA) registrou 4,350 milhões de hectares incendiados no Pantanal, ou seja, 30% do bioma.

Armadilha fotográfica instalada em reserva no Pantanal de MT para 
acompanhar animais — Foto: Gabriela Schuck
 
Entre os locais mais severamente atingidos pelo fogo, a grande área com acuris na RPPN surpreendeu e já dá seus primeiros frutos, após quatro meses. A expectativa inicial era que isso acontecesse somente em um ano. A bióloga e pesquisadora do Grupo de Estudos em Vida Silvestre (GEVS), Gabriela Schuck, explicou que a área estava cinza e que não dava nem para saber se os acuris estavam vivos.

Embora os incêndios tenham alcançado 93% da área de 108 mil hectares da RPPN, o fogo teve intensidades diferentes em toda esta extensão, resultado da atuação da brigada de incêndio do Sesc Pantanal, existente há 20 anos, e dos contrastes acentuados da estrutura do mosaico da paisagem. Segundo a instituição, foram 50 dias de combate, em locais simultâneos, o que retardou o avanço do fogo, permitindo a fuga de animais para áreas ainda preservadas ou já atingidas.

Árvore começa a dar frutos 4 meses após queimadas  — 
Foto: Gabriela Schuck

Ação emergencial
Em setembro de 2020 teve início imediato o diagnóstico do impacto do fogo na fauna da Reserva pelo Sesc Pantanal e o GEVS, formado por pesquisadores do Museu Nacional Rio de Janeiro, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Eles levantaram dados detalhados acerca do número de carcaças de animais encontrados em amostras de toda a área da Reserva. Paralelamente, com o apoio da Ampara Silvestre, SOS Pantanal, o grupo É o bicho e parte dos pesquisadores, foram iniciadas também ações emergências de apoio aos animais sobreviventes com a distribuição de alimentos e água em 165 pontos, que tinham cochos instalados e monitorados com armadilhas fotográficas.


Por meio das armadilhas, cerca de 300 registros da fauna eram baixados semanalmente. Por estarem debilitados, muitos andaram quilômetros em busca de água e alimentos e se concentravam próximos aos pontos instalados pelo Sesc Pantanal. Essa grande concentração de animais não foi mais vista no último mês. Isso demonstra a importância do suporte emergencial, que foi essencial para que os animais sobreviventes passassem pela fase aguda, na direção de retomarem a vida normal gradativamente, entre eles a anta, também conhecida como a jardineira das florestas. 

A queda do número de registros pelas câmeras, que passou a ser em média de 30 por semana, a redução do consumo dos alimentos oferecidos, a identificação do reestabelecimento das fontes naturais de alimentação e água, vinda da chuva, contribuíram para o fim da ação emergencial, com a retirada dos cochos e suspensão da distribuição de alimentos. O objetivo com a ação emergencial, que teve mais de 30 toneladas de alimentos distribuídos, foi alcançado, explica a bióloga.

Antes e depois das queimadas no Pantanal de MT — 
Foto: Jeferson Prado/Sesc Pantanal
 
Transição do Pantanal
O crescimento da vegetação e o surgimento das frutas, porém, não significa que a área recuperou o estado anterior ao fogo, afirma a pesquisadora. “Este é um momento de transição e estruturação da paisagem. Vemos água em todos os lugares e ela é um recurso essencial para todas as espécies e para a produção de frutos. Ou seja, mantendo a alimentação dos animais herbívoros, mantêm-se a alimentação dos animais carnívoros e tudo vai se ajeitando dentro de uma relativa normalidade. 

Porém, não falamos ainda em recuperação, mas em transformação e reestruturação da área. Ainda é preciso monitorar como as coisas serão em longo prazo, porque o fato de ver vida animal e vegetal não significa que isso se manterá no futuro”, alerta Gabriela.

Exemplo disso é a possibilidade de muitas fêmeas de uma mesma espécie terem perecido no incêndio, o que prejudica a recuperação da população na área, ou então na grande mortalidade dos animais pequenos que também são importantes nos ciclos da natureza.

E é isso que as pesquisas realizadas na RPPN Sesc Pantanal, voltadas para a fauna e flora, devem colaborar, especialmente para a tomada de decisões em todo o Pantanal, afirma a superintendente do polo socioambiental Sesc Pantanal, Christiane Caetano.

“Com as ações de combate ao fogo pela brigada do Sesc Pantanal e o investimento em pesquisas, poderemos dar uma resposta para a sociedade sobre a real proporção do que foi afetado no bioma. O histórico das pesquisas, realizadas há 24 anos na RPPN, colaboram para este momento de transição que vive o Pantanal, pois temos dados do antes, estamos levantando o do agora, e podemos projetar os impactos a longo prazo”, declara a superintendente.

Pesquisas sobre a fauna e a flora
Há duas pesquisas em andamento neste momento realizadas pelo Sesc Pantanal na RPPN. Em parceria com o GEVS, a pesquisa sobre a fauna, com importante apoio do Instituto Curicaca, tem o objetivo de conhecer os impactos dos incêndios para a vida animal nas diferentes paisagens do Pantanal, representadas no contexto da RPPN. Os resultados finais da pesquisa serão divulgados em artigos científicos e em um volume especial da coleção “Conhecendo o Pantanal”, publicada pelo Departamento Nacional do Sesc. Nos próximos anos, a recuperação das populações de algumas espécies-alvo da fauna será monitorada com o uso de armadilhas fotográficas e drones.

Referente à pesquisa sobre a flora, a RPPN foi contemplada, com recursos do Projeto Estratégias de Conservação, Restauração e Manejo para a Biodiversidade da Caatinga, Pampa e Pantanal (GEF Terrestre), do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio). Ao todo, serão R$ 552.448,40 revertidos na recuperação ambiental de 23 hectares do bioma pantaneiro, resultado do projeto de autoria da Mupan – Mulheres em Ação pelo Pantanal.

Com o nome de “Recuperação de florestas ribeirinhas pantaneiras: beneficiando água, solo, peixes e populações do entorno da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Sesc Pantanal”, o projeto é uma parceria, fruto de pesquisas e trabalhos de campo desenvolvidos, desde 2018, entre as instituições: Mupan, Wetlands International Brasil, Centro de Pesquisa do Pantanal (CPP), Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Áreas Úmidas (INAU) e o próprio Sesc Pantanal.

Fonte: G1

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