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05 julho 2021

Vídeos de falsos resgates tornaram-se a nova faceta do abuso de animais


OPINIÃO:
simular situações para obrigar animais a atacar outros apenas para filmar os resgates é doentio, sem explicação. O ser humanos preciosa ser extinto! 
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Mark Auliya não vê nada de errado com ataques de cobras a outros animais. Afinal, carnívoros precisam se alimentar. Contudo, no mês passado, ao assistir a um vídeo do YouTube no escritório de sua casa em Bonn, Alemanha, o especialista em répteis atirou seus óculos no chão por desgosto. “É revoltante”, disse ele.

Na tela de Auliya, uma cobra píton-birmanesa, uma serpente constritora que normalmente preda aves e pequenos mamíferos, foi enrolada a um gibão. O primata em pânico luta por sua vida quando a cobra, em volta de seu torso, começa a apertar. Logo, o gibão para de se mexer. Um homem com uma camisa de futebol azul e jeans aparece. Apressadamente, ele desenrola a cobra, libertando o gibão e tira a cobra de frente das câmeras. O gibão traumatizado se encolhe, cobrindo a cabeça.

“É tão óbvio que é uma farsa, mas alguns acreditam”, conta Auliya, herpetólogo do Museu Alexander Koenig de Pesquisa Zoológica. O vídeo parecia sugerir que o salvador chegou bem a tempo de socorrer o gibão. Mas as cobras pítons primeiro mordem as presas para apoiar sua contração — algo que não acontece no vídeo do gibão, explica Auliya. Cobras pítons também são caçadoras noturnas, mas esse vídeo e muitos outros semelhantes foram filmados durante o dia.

Para Auliya, os únicos pontos do vídeo que de fato pareciam reais foram os maus tratos aos animais forçados a essas situações e o estresse que lhes deve ter sido causado.

Há vários anos, grupos de bem-estar animal começaram a perceber a proliferação de vídeos de falsos resgates de animais no YouTube. Todos são variações de um mesmo tema: uma águia ataca uma cobra, um crocodilo ataca um pato, cobras atacam gatos, cães, lagartos. Em todos os casos, as mortes são evitadas por salvadores humanos que convenientemente aparecem ou ouvem os gritos dos animais a tempo de impedir a carnificina.

A produção desses vídeos causa estresse, ferimentos e provavelmente até a morte dos animais envolvidos, afirma Anne-Lise Chaber, veterinária de animais silvestres e especialista na abordagem de saúde única da Universidade de Adelaide, na Austrália. Além disso, os resgates falsos de animais difundem conceitos equivocados sobre as espécies e inspiram outros a copiá-los, adverte Chaber, que estuda como o YouTube normaliza o comércio de animais de estimação exóticos e as interações entre humanos e animais silvestres. É natural a predação animal na natureza, sem intervenção humana, mas os vídeos enganam os espectadores sobre o comportamento natural dos animais, demonizando espécies de predadores, como cobras e aves de rapina.

Também desviam a atenção das questões genuínas de conservação e bem-estar animal, afirma Daniel Natusch, biólogo conservacionista da Universidade de Macquarie em Sydney, Austrália, e membro de vários grupos de especialistas em répteis da União Internacional para a Conservação da Natureza. A UICN define a classificação de conservação de animais silvestres. Os títulos dos vídeos geralmente são frases como “homem primitivo salva cobra”, o que incentiva “intolerância racial e mal-entendidos”, conta ele.

Por que pessoas forçam animais em cativeiro a situações perigosas ou prejudiciais? Para obter o máximo de cliques possível e provavelmente ganhar dinheiro com os vídeos. Ao publicar algo que recebe milhões de cliques nas redes sociais, alguém pode ganhar milhares de dólares, de acordo com Jason Urgo, presidente da Social Blade, empresa que monitora estatísticas de plataformas de redes sociais. Qualquer um pode criar um canal no YouTube e publicar vídeos. Mas, para começar a lucrar com os programas de compartilhamento de anúncios da plataforma do Google, os proprietários de canais precisam de mil inscritos e quatro mil horas de visualizações nos últimos 12 meses.

Desde que o primeiro vídeo do YouTube foi carregado em 2005, a plataforma cresceu exponencialmente — e, com ela, as críticas de não tomar medidas suficientes para evitar conteúdos considerados prejudiciais ao bem público, como conspirações fraudulentas, discurso de ódio, crueldade contra animais e muito mais. Suas diretrizes da comunidade proíbem “conteúdo violento ou sangrento destinado a chocar ou causar repugnância aos espectadores”. A empresa alega ter contratado 10 mil funcionários e utilizar aprendizado de máquina para moderar as 500 horas de vídeos enviados por minuto à plataforma. Entre janeiro e março de 2021, o YouTube afirma ter removido mais de nove milhões de vídeos por violar as diretrizes da comunidade.

No entanto o processo de análise é complexo, moroso e irregular, segundo relatado por moderadores atuais e antigos ao jornal The Washington Post. Para tentar acelerar o processo, o YouTube desenvolveu ferramentas como o programa de sinalização de vídeos Trusted Flagger — um recurso pelo qual órgãos públicos e organizações não governamentais, entre outros, podem contribuir com a moderação. Aqueles que sinalizam vídeos não podem removê-los, mas o que é destacado “pode agilizar a análise por nossas equipes”, de acordo com as políticas emitidas pelo YouTube.

À espera de soluções

Em março de 2021, o YouTube anunciou que nas semanas seguintes adotaria medidas para proibir vídeos falsos de resgates de animais. Desde então, mais de cem foram publicados e centenas permanecem, de acordo com o acompanhamento da Lady Freethinker, organização sem fins lucrativos de bem-estar animal com sede na Califórnia.

A Lady Freethinker se inscreveu para participar do programa de sinalização de vídeos do YouTube em abril de 2021. Mas, dias depois, o YouTube informou que não estava “integrando ativamente sinalizadores com experiência nas áreas das políticas mais pertinentes a sua organização no momento”, revela Nina Jackel, fundadora e presidente da Lady Freethinker.

O YouTube não respondeu a questionamentos sobre essa decisão e recusou os pedidos de entrevista da National Geographic. “Temos uma equipe exclusiva de políticas que analisa e atualiza nossas políticas continuamente”, declarou a empresa em comunicado.

O canal com o vídeo do gibão e da cobra píton, que possui 83 mil inscritos, publicou nove vídeos de “resgate” duvidosos em maio. Uma postagem em outro canal que alega apresentar uma “luta real” entre um porco e uma cobra píton alcançou mais de seis milhões de cliques desde sua publicação em março de 2020; quase um milhão deles, apenas em maio (o YouTube desativou os canais em junho após a National Geographic entrar em contato com a empresa para solicitar uma entrevista e indicar uma lista de vídeos com resgates suspeitos de animais).

Tim Kasser, professor emérito de psicologia da Faculdade Knox, em Illinois, que estudou os valores e o consumo no capitalismo, afirma que os vídeos atraem dois tipos de pessoas: aqueles atraídos por cenas emocionantes de animais fofinhos sendo salvos e aqueles que gostam de ver animais lutando e em apuros.

Os vídeos podem obter um grande número de visualizações, mas parecem não suscitar muitos comentários. “Trabalho muito ousado e corajoso”, dizia um comentário do vídeo do porco e da cobra píton — as indicações de “gostei” superaram as de “não gostei” por 27 mil a quatro mil.

“Fantástico” foi outro comentário, acompanhado por seis emojis de coração e beijo (a National Geographic não está informando os nomes dos canais nem inserindo os links de nenhum dos vídeos para não promover o tráfego deles).

Sinais indicativos

Vídeos de resgates falsos seguem um padrão. Geralmente têm cerca de cinco minutos de duração e apresentam o ataque de um animal a outro em um buraco pouco visível cercado por vegetação. As lutas dos animais são justapostas com a aproximação de um salvador humano, geralmente com uma trilha sonora de música instrumental ou eletrônica para intensificar a trama. Há também um longo trecho introdutório até o encontro, talvez para imitar o estilo de documentários sobre a natureza, afirma DJ Schubert, biólogo de animais silvestres da organização sem fins lucrativos Animal Welfare Institute, com sede em Washington, D.C.

Schubert ressalta que os ângulos de câmera variados e dramáticos e a grande quantidade de vídeos assim são indicativos de que são encenações. “Geralmente, um fotógrafo ou cinegrafista de animais silvestres demora incontáveis horas, dias, meses ou até anos para obter uma filmagem ética que revela um pouco do comportamento de uma espécie na natureza”, afirma ele.

Brent Stirton, fotógrafo da National Geographic que documenta animais silvestres, conta que é incrivelmente difícil obter cenas reais de conflitos entre animais. “A menos que você leve seu animal de estimação ao Parque Nacional Everglades, na Flórida, e caminhe ao lado do território de crocodilos ou deliberadamente leve seu animal de estimação para perto de uma cobra píton, seria algo muito raro”, explica ele. Encenações artificiais não se atêm ao YouTube. Às vezes, podem existir até mesmo em documentários ou programas sobre a natureza, revela ele. “No pior cenário, são solicitados recursos e financiamentos, que então são retirados daqueles que adotam processos mais demorados para conseguir essas filmagens — como seguir os animais sem os traumatizar.”

O que indica aos cientistas e especialistas em animais que um vídeo é uma farsa pode não ficar evidente a muitos espectadores.

Alguns animais podem ter ferimentos identificáveis antes das cenas de conflito, sugerindo que foram submetidos a repetidas tentativas de gravação. Aves de rapina podem parecer doentes e ter as asas cortadas para evitar que voem para longe — indicando que são animais de cativeiro. As cobras utilizadas em vários vídeos podem ser reconhecidas por marcas faciais e lesões, afirmam pesquisadores de animais que analisaram uma amostra de cerca de dez vídeos a pedido da National Geographic.

Além disso, se o predador não tentar escapar de um tratador humano ou se as cenas forem filmadas em um local onde um ou ambos os animais não seriam encontrados na natureza — uma espécie de floresta tropical filmada em um campo aberto e seco, por exemplo — são sinais de que há algo errado, afirma Neil D’Cruze, herpetólogo e chefe global de pesquisas sobre animais silvestres do grupo de defesa animal World Animal Protection.

Cobras maltratadas

A ciência sugere que as cobras sentem “ansiedade, angústia, animação, medo, frustração, dor, estresse e sofrimento”, explica D’Cruze, que estuda pesquisas científicas sobre a sensibilidade dos répteis. “Esses conhecimentos científicos possuem implicações práticas sobre como os répteis devem ser tratados.”

Nos vídeos, as cobras geralmente são os predadores que parecem atacar animais menores e fofos. É extremamente estressante para as cobras serem manuseadas e colocadas em espaços fechados com outros animais e seus tratadores humanos, adverte D’Cruze. As cobras não podem ser treinadas, então essas cenas podem precisar ser filmadas diversas vezes — com consequências desconhecidas a seu bem-estar, revela ele.

Auliya afirma que, ao analisar o vídeo da cobra píton e do gibão, ficou evidente como foi mais prejudicial à cobra. O réptil era fraco demais para enfrentar um animal do tamanho de um gibão, conta ele. A cobra tentou até mesmo escapar depois que o macaco gritou, mordeu-a e bateu com sua cabeça no chão. Os ângulos da câmera e a edição das diversas tomadas tornam isso quase indiscernível. O estresse de ser colocado nessa situação, tanto à cobra quanto ao gibão, é muito grande, afirma Auliya.

Os sinais de ferimentos físicos nítidos às cobras podem ser visíveis. Em um vídeo, uma cobra apresentava um corte sangrando no focinho antes de atacar um lagarto. Em outro, que apresentava um suposto ataque de cobra a um cachorro, a cobra parece quase morta — ela se desenrola com muita facilidade e fica imóvel após ser retirada. “Uma cobra píton viva não ficaria parada assim”, afirma Auliya; em vez disso, o réptil contra-atacaria imediatamente sua presa. As cobras nesses vídeos também costumam ter cicatrizes no focinho, onde suas escamas foram desgastadas, um ferimento normalmente resultante de cobras mantidas em cativeiro que batem obsessivamente nas barras de arame de sua gaiola.

Segundo Jackel da Lady Freethinker, o que não é mostrado na versão final desses vídeos é que os animais explorados podem ficar gravemente feridos ou até morrer.

Monitorando vídeos falsos de animais

A cada vez que você assiste a um vídeo, o YouTube está observando você — ou melhor, os algoritmos do site estão registrando as suas escolhas. Quando assisti ao vídeo de um animal ao fazer esta matéria, o YouTube me indicou outro logo em seguida, com anúncios de grandes empresas entre cada um (os canais em que esses anúncios foram exibidos foram desativados após a National Geographic denunciar os URLs ao YouTube).

A Lady Freethinker conduziu uma investigação no YouTube durante três meses no ano passado. A equipe de pesquisas do grupo começou buscando palavras-chave comuns, como “rinha de cães” e “rinha de galos” e “tortura de macacos”. O algoritmo do YouTube reproduziu conteúdos semelhantes depois que os pesquisadores assistiram aos vídeos exibidos. No fim, os pesquisadores identificaram mais de dois mil vídeos nos quais, segundo informa a Lady Freethinker, animais foram feridos intencionalmente. Entre eles, havia vídeos de resgates falsos que, em conjunto, alcançaram mais de 40 milhões de visualizações.

Quando repórteres do jornal the Guardian e outros veículos de imprensa que divulgaram a investigação da Lady Freethinker enviaram ao YouTube os URLs dos vídeos problemáticos, todos foram retirados do ar, conta Jackel. Contudo, acrescenta ela, isso nem sempre ocorre.

“Como teste, denunciamos 10 vídeos falsos de resgates de animais aleatórios, cada um em um canal diferente, em 11 de maio de 2021, utilizando o sistema de denúncias do YouTube. Todos os 10 vídeos ainda estavam disponíveis em meados de junho, afirma ela.

Quando contatado para esta matéria, o YouTube retirou nove dos 10 vídeos denunciados e desativou diversos dos canais sinalizados — incluindo três da lista da Lady Freethinker. “Nossa política de conteúdos violentos ou fortes proíbe conteúdos que retratem sofrimento ou ferimento desnecessário contra animais e, de acordo com esta política, removemos três canais sinalizados a nós pela National Geographic”, informou o comunicado do YouTube em 21 de junho de 2021.

“No fim deste mês, expandiremos nossa política de conteúdos violentos ou fortes a fim de esclarecer melhor a proibição de conteúdos com sofrimento ou ferimentos físicos deliberados a animais”, informou o comunicado do YouTube. A empresa não explicou como faria isso ou se haveria um anúncio formal de uma nova política.

Um dia antes da publicação desta reportagem nos EUA, o YouTube informou a National Geographic de que adotaria uma nova política em 30 de junho para facilitar a retirada de conteúdos de resgates de animais “que tenham sido encenados e coloquem o animal em cenários perigosos”. Não foram fornecidos mais detalhes sobre como seria esse procedimento e qual seu prazo de implantação.

Por ora, vídeos de resgates falsos de animais ainda estão sendo publicados.

Quem produz os vídeos?

A maioria dos vídeos enviados em vários canais parece ter sido filmada no sudeste da Ásia, provavelmente no Camboja, segundo Jackel e outros pesquisadores de animais. Eles afirmam que o khmer, língua principal do Camboja, geralmente é falado nos vídeos, as cobras exibidas são espécies nativas da região e a vegetação também aparenta ser condizente com a área.

Há uma escassez de empregos no interior do Camboja, onde vivem 90% dos mais pobres do país. Além disso, o turismo, a indústria e a construção — que representam 40% dos empregos — foram drasticamente reduzidos durante a pandemia.

“Muitas pessoas em locais como o Camboja e o Vietnã possuem répteis de estimação ou os reproduzem para consumo de sua carne e outros fins, como granjas de galinhas no Ocidente”, afirma Natusch, que analisou alguns dos vídeos a pedido da National Geographic. “Ao que tudo indica, esses animais são mantidos em gaiolas na maior parte do tempo no vilarejo local.”

O Bellingcat, site de investigação de código aberto, analisou mais de 10 vídeos de um dos mais prolíficos canais de resgates falsos de animais para a National Geographic. O grupo procurou indícios ambientais para ajudar a identificar os prováveis locais onde os vídeos foram feitos.

Foeke Postma, investigador e instrutor do Bellingcat, afirma suspeitar que “com base em alguns detalhes dos vídeos e das cordilheiras”, os vídeos foram produzidos perto de Tuk Meas Khang Lech, área rural no sul do Camboja. Mas ele não conseguiu identificar exatamente onde. “A natureza rural desses vídeos dificulta a localização exata”, afirma ele.

É importante saber o local de gravação dos vídeos para impedir a exploração, observa Jackel. “É a única maneira pela qual autoridades locais podem fazer algo a respeito”. Também é importante descobrir quem são os donos dos canais que publicam os vídeos, prossegue ela. São os beneficiários dos pagamentos do Google, caso os canais gerem receita, e podem proporcionar alguma notoriedade pelos vídeos. “É evidente que desejam atenção, o que pode ser um grande atrativo”, afirma Jackel. “Ainda que não estejam lucrando com os vídeos, existe um risco: é possível ser popular no YouTube exibindo tortura a animais.”

É improvável que esses donos de canais estejam localizados no Camboja, que não consta como um país qualificado para acordos de parceria de publicidade do YouTube.

Apenas o Google e o dono da conta do canal do YouTube têm acesso ao país de registro de um canal para fins tributários e de pagamento, conta Urgo, da Social Blade. A página “sobre nós”, visível em todos os canais, pode não indicar onde os vídeos são filmados: alguém que possui um canal registrado nos Estados Unidos pode publicar vídeos de qualquer local.

Em comunicado, o YouTube declarou que o canal analisado pelo Bellingcat não gera receita.

O que pode ser feito para ajudar

A responsabilidade de denunciar vídeos problemáticos não deve recair sobre os espectadores, argumenta Jackel. “É obrigação do YouTube garantir que sua plataforma não promova crueldade contra animais e que todo conteúdo abusivo seja removido.”

Ainda assim, os espectadores devem denunciar o que considerarem ser vídeos falsos e cruéis ao YouTube, e não devem compartilhá-los, prossegue ela. Para denunciar um vídeo, os usuários devem clicar em “denunciar” no canto inferior direito do vídeo, selecionar “conteúdo violento ou repulsivo” e, em seguida, a opção “abuso de animais”.

Pressionar os anunciantes também pode ajudar, afirmam Jackel e outros. Marcas importantes como a PepsiCo, Walmart e Starbucks retiraram seus anúncios do YouTube em 2017 depois que o jornal Wall Street Journal constatou terem sido exibidos em vídeos que promoviam incitação ao ódio. Os boicotes obrigaram o YouTube a anunciar a intenção de aumentar a fiscalização. A plataforma atualizou suas políticas de assédio e incitação ao ódio em 2019 — proibindo vídeos que alegam que um grupo é superior a outros como justificativa à discriminação.

O policiamento de conteúdos problemáticos é provavelmente uma “guerra sem fim” para o YouTube, afirma Schubert da Animal Welfare Institute. Mas ainda é responsabilidade das empresas de redes sociais desenvolver algoritmos para fazer cumprir suas próprias diretrizes e contratar pessoal suficiente para monitorar vídeos de abusos de animais e retirá-los das plataformas o quanto antes.

O YouTube poderia recorrer a programas que analisam e reconhecem espécies ameaçadas ou em risco de extinção em vídeos de animais e que criam notificações automáticas sobre o nível de perigo aos animais, com informações contextualizadas sobre a exploração animal, explica Chaber. Os usuários deveriam visualizar as notificações antes de poder assistir aos vídeos, afirma ela. A plataforma já adotou uma abordagem semelhante com vídeos de farsas.

Quando usuários pesquisam no YouTube tópicos conhecidos por serem vulneráveis à desinformação, avisos ou painéis informativos são exibidos. Se um usuário pesquisar “coronavírus”, por exemplo, é exibido um aviso com o teor “saiba mais” com um link para o site sobre covid-19 dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos. A caixa de aviso também fica visível no canto inferior de vídeos listados individualmente. Algo assim poderia ser feito também com vídeos de animais, sugere Chaber.

Mas nem todos concordam que avisos de advertência seriam úteis. Jackel afirma ter receio de utilizar essa espécie de intervenção em vídeos de resgates falsos de animais porque poderia servir como chamariz para compartilhá-los ou assisti-los. Além disso, o enfoque passa a ser a farsa desses vídeos e não o abuso de animais, explica ela.

“A questão mais urgente é a violência contra os animais — o que nunca deve ser permitido como ‘entretenimento’, não importa como seja caracterizada”, prossegue Jackel. O objetivo deve ser a retirada imediata dos vídeos. “Vídeos promovendo crueldade contra animais não têm lugar no YouTube e ponto final.”

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