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03 setembro 2021

Onça de patas queimadas em incêndios do Pantanal ressurge bem após 8 meses


OPINIÃO:
a onça Joujou é, sem dúvidas, um dos principais símbolos de um dos maiores crimes ambientais do país: o incêndio que devastou o Pantanal. A questão agora é saber para que lar ela irá retornar. Ela está realmente segura? Como é voltar ao lugar onde seus familiares e companheiros foram mortos pela chamas e seu lar completamente destruído? Não é só uma história de sobrevivência e recuperação, é acima de tudo uma história de sofrimento e dores profundos.
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Foram necessários quase oito meses de monitoramento para que pesquisadores conseguissem registrar novamente de tão de perto o Joujou, onça-pintada que ficou muito debilitada com queimaduras nas patas após os incêndios que atingiram o Pantanal em 2020. O animal foi posteriormente solto, reabilitado, na Serra do Amolar (MS), em janeiro deste ano. O registro, realizado nesta semana, revela o felino está recuperado e se readequando à vida no bioma.

Pesquisadores monitoram o felino diariamente através de sinais emitidos por GPS (Sistema de Posicionamento Global) e VHF (Frequência Muito Alta). "Foi incrível e bastante emocionante, porque no ano passado eu auxiliei nos grupos de resgate de fauna e acompanhei o processo das pessoas e veterinários que resgataram o Joujou. Quando eu fui para o Amolar [...] fiquei mentalizando 'nossa, eu quero encontrar o Joujou'", disse Nathalie Foerster, de 33 anos, em entrevista ao UOL.

"E foi lindo, porque foi no nosso último dia lá; ele tava sentado no barranco e a hora que eu olhei e vi o colar, disse assim: 'é o Joujou!'. Ele estava muito tranquilo e saudável, foi uma experiência emocionante", afirmou a bióloga e doutoranda em ecologia que faz parte do Projeto Ariranhas.


A felicidade dela foi compartilhada com a colega de projeto Vanessa Morais, de 33 anos, responsável pelo vídeo gravado tão de perto, pela primeira vez desde que a onça foi monitorada nas primeiras semanas de soltura, em janeiro. "É uma sensação gratificante", fala a gestora de áreas do IHP (Instituto Homem Pantaneiro), ONG (Organização Não Governamental) que possui um programa que monitora felinos no bioma, em conversa com o UOL.

"O avistamento do Joujou não é comum, então a gente não pode dizer que é fácil. Mas também quando o foco é fazer isso, quando passamos o dia buscando o animal, facilita mais, mas não é uma coisa fácil de acontecer, porque vai muito da região onde ele está, se é de fácil visualização ou não", declara ao UOL o médico veterinário Diego Viana. Como o animal é visto poucas vezes, o acompanhamento é feito principalmente pelo colar GPS.

Coordenador do programa Felinos Pantaneiros do IHP, Viana disse que os seguidores que acompanham as redes sociais da ONG perguntam sobre a onça frequentemente e devem ter ficado felizes com os novos registros dela, feitos na última terça-feira (31).

Uma onça com história para contar

Joujou é monitorado diariamente pela equipe do programa Felinos Pantaneiros, que fica de olho nos dados de movimentação da onça-pintada, emitidos pelo colar GPS.

Toda semana também é feita a análise das informações do tamanho da área que o felino atua, seus deslocamentos diários e o comportamento, em parceria do Cenap/ICMBio (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros). Por exemplo, os pesquisadores sabem que o felino prefere descansar na sombra das árvores entre às 10h e 14h.

Quem observa essa evolução nem imagina a luta que Joujou enfrentou no ano passado, vítima dos incêndios na Serra do Amolar, em Corumbá (MS), no Pantanal Sul. Após uma onça morrer nos incêndios, Joujou e outro exemplar macho foram resgatados nas proximidades do Rio Paraguai, receberam os primeiros socorros e foram levados pela FAB (Força Aérea Brasileira) ao Cras (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres), em Campo Grande.

O outro macho não resistiu e morreu. Joujou, muito debilitado, com as patas queimadas e tendo inalado fumaça, passou por procedimentos para recuperar dos ferimentos e era incerto se conseguiria voltar à natureza. Mas ele se recuperou e foi solto em 23 de janeiro na Serra do Amolar. Seu nome, inclusive, é uma homenagem à cozinheira Joana Huampo, colaboradora do IHP, que auxiliou quem estava no combate aos incêndios e resgatando animais no ano passado na região.

"Já havíamos avistado o animal, principalmente no período pós-soltura, quando a necessidade de visualização do animal, ver se ele está com o colar e conseguindo caçar, é uma necessidade maior", explica Viana. Dois dias após sua soltura, Joujou foi encontrado próximo a uma carcaça de capivara. Atualmente, a onça tem vivido entre as áreas de duas RPPNs (Reservas Particulares do Patrimônio Natural), a Penha e a Acurizal.

Além de Joujou, o programa Felinos Pantaneiros monitora aspectos ecológicos de onças-pintadas e onças-pardas na Serra do Amolar desde 2016. Ambos os animais constam na lista vermelha de espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção.

Eles contam com diversos parceiros que estiveram inclusive no combate aos incêndios e resgate de animais ano passado como o CRMV/MS (Conselho Regional de Medicina Veterinária do Mato Grosso do Sul), a ONG Onçafari, o Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), o Ibama, Instituto Tamanduá, dentre outros. "Uma realidade que a gente vive aqui muito é precisar de dinheiro. A gente se vira nos mil para fazer conservação de natureza", salienta Vanessa, citando a necessidade de financiadores.

Incêndios

Se os incêndios que atingiram o Pantanal em 2020 devastaram a fauna e flora do bioma, no mês passado, eles começaram a se intensificar em meio aos dias quentes de Mato Grosso do Sul, com registros de focos até mesmo em cidades longe do Pantanal. A situação já preocupa.

"Está todo mundo apreensivo; existem regiões que já queimaram no Pantanal, inclusive fizemos resgate de fauna e contamos animais mortos. Mas, comparado com o ano passado, a situação está um pouco mais tranquila, mas com muita preocupação" salienta o veterinário Diego Viana, citando incêndios no Parque Estadual das Águas e próximo à rodovia transpantaneira.

Contudo, ele tranquiliza ao falar da região que o felino monitorado está. "Na Serra do Amolar, onde o Joujou está hoje, não tivemos incêndios até o momento".

Sobrevivente do ano passado, o resgate, tratamento, recuperação e volta à vida selvagem da onça é motivo de comemoração: "É um marco importante para a ciência, para a pesquisa e conservação, não só do Pantanal, mas pensando no contexto de Brasil, que mostra a evolução da ciência e conservação", conclui Viana.

Fonte: UOL 


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