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04 março 2022

Após 10 meses, cão dado como morto reaparece bem nutrido e com dois nomes


OPINIÃO:
a história é realmente engraçada e inusitada, mas guarda responsável e criação indoor andam lado a lado. Que bom que ele está bem, mas o fim dessa história poderia ter sido muito diferente. 
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Segundo o ditado, cachorro com dois donos morre de fome. Não é o caso de Billy, um cão de três anos dado como morto há 10 meses. Durante este período, o vira-lata preto, mistura com pittbull, ficou conhecido como Negão -- nome que ganhou das crianças que frequentam a praça principal do Bairro Virgílio Viel na cidade de Sumaré, SP.

O cachorro foi adotado em 2019 pela família de Beto Martine, 19. Criado solto e avesso à guia, Billy separava-se do tutor em determinado momento do passeio para dar suas voltas sozinho. Trinta minutinhos, mas voltava.

Em junho de 2021, o cachorro preto de 15 kg viu a garagem aberta, estourou a corrente e sumiu. Uma conhecida informou que um cão com as mesmas características tinha sido atropelado na região. Dias depois, Roberto Messias, pai de Beto, afirmou que viu Billy perto de um bar.

Beto optou por viver o luto do companheiro sem imaginar que Billy, ou Negão, estava vivíssimo dando seus rolês. O cachorro reapareceu no dia 19 de fevereiro de 2022, para surpresa da família -- e muito bem nutrido, "como se nada tivesse acontecido", descreve seu tutor.

O dia do retorno

Era noite quando Michele Cristina, mãe de Beto, gritou emocionada: "O Billy voltou". O jovem estava no seu quarto assistindo a série Dinastia quando olhou da janela e viu um vulto preto. "Mas ele não morreu?!".

Na sua versão, o cachorro não "voltou" deliberadamente. Estava passando coincidentemente pela antiga casa quando escutou seu nome e atendeu o chamado. "Ele entrou e ficou na sala brincando com a gente", conta a mãe, que comemorou o retorno oferecendo um pratão de comida para o cão.

Incrédulo, Beto compartilhou a história no Twitter. "Postei sem a intenção de viralizar, apenas para informar meus seguidores".

O post acumula mais de 164 mil curtidas e chamou a atenção de Janaína Lustosa, 21, estudante de Ciências dos Alimentos. "Amigo, ele parece muito com um que eu cuidava aqui."

A jovem não tinha relação com Beto, mas conhecia seu trabalho como produtor de conteúdo no TikTok. Famoso em Sumaré pelas dublagens divertidas no aplicativo -- uma delas registra cerca de cinco milhões de visualizações --, é seguido por mais de 700 mil perfis.

Foi conversando com Janaína que Beto descobriu a vida "paralela" de Billy ou Negão: mais pessoas já ajudaram o cachorro também. E não é só isso. O cão passou Natal e Ano Novo no quintal de Janaína, é muito querido pelas crianças da região e só anda com uma cadela vira-lata branca de pintas bege que conheceu num terreno baldio próximo à praça. Seu nome é Maia. "Eu sabia que ele tinha outra casa, mas cara de pau nesse nível? Eu e minha família estamos passados e rindo", respondeu Janaína.

"Chamei de Negão e o bonito olhou… Olha, eu não aguento tanta traição por parte dele. Obrigada por cuidar dele. Deus abençoe", agradeceu Beto. Ele adoraria que a história de Billy fosse ficção, mas não é. "Sofri muito", conta ao TAB.

Billy não é o único pet a conquistar vários donos. Um estudo realizado na Inglaterra calculou que o número de tutores numa cidade era maior que o número de gatos. O que eles descobriram: alguns gatos tinham mais de um tutor e poucos deles já haviam desconfiado.

A segunda casa

Janaína lembra o primeiro encontro com o cão de vida dupla. "Eram três: Lobinho, Negão e Maia. Meu irmão começou a trazê-los para casa só pra alimentar, mesmo". Lobinho se acostumou e ganhou um lar. Já Negão e Maia não curtem controle: vão e voltam quando querem. Ela já tentou manter a dupla no quintal, mas fracassou. "Chega um momento do dia que eles fogem ou reclamam pra sair. E o Negão não sai de jeito nenhum sem a Maia".

Segundo Alexandre Rossi, especialista em comportamento animal, cães têm a capacidade de andarem sozinhos, sim, mas os riscos são muitos. "Eles carregam essa vontade de explorar e, evolutivamente, foram preparados para pedir comida". Aliás, uma das histórias de Negão durante o sumiço envolve um ataque a um ouriço. Ficou cheio de espinhos e pessoal da praça e fez uma vaquinha para levá-lo no veterinário.

'Imagina juntos'

Maia e Negão são populares na praça. Apegados ao ponto de Negão resmungar quando a parceira não está no pique de ir para a rua. "Acho que ele se apaixonou pela Maia. Sempre foi muito safado", opina Beto.

Janaína observa que, quando Maia está com Negão, ela fica mais rolezeira. E os dois têm uma rotina: dormem no quintal e saem por volta das 5h30. Dependendo do clima, voltam no finalzinho da tarde. Às vezes sozinhos; às vezes acompanhados do pai de Janaína com Negão e Lobinho. É quando a cachorrada se encontra e voltam todos juntos pro quintal.

Janaína reforça que apenas cuida da dupla fornecendo alimentos. Ela é tutora de duas gatas e dois cachorros -- Billy, um labrador caramelo (xará de Negão) e, agora, Lobinho.

A foto feita no momento do retorno do cão revela um sorriso pleno. Ao TAB, Beto diz que descobriu que não tem como prender alguém que nasceu pra ser livre. "Ele quer viver, quer correr. Por mim, colocaria uma coleira e deixaria preso, mas aprendi a respeitar a natureza dele". No momento do papo, Billy não estava por lá. Estava passeando.

Voltando pra casa

A pergunta que fica da saga do pet com duas famílias é: de que maneira cães como Billy conseguem voltar para suas casas?

Há explicação para algumas coisas, segundo Alexandre Rossi. Uma delas é que cães têm a capacidade de perceber o magnetismo terrestre -- norte, sul, leste, oeste. Isso permite a manutenção de um determinado direcionamento. Além dos sons e do cheiro. Bairros e cidades têm cheiros específicos e o vento pode trazer informações de uma área que ele já conhece. O cão então segue aquela direção e, se já andou por lá, também conhece visualmente. Se não andou, pode manter uma direção de acordo com o magnetismo terrestre que é capaz de perceber.

No dia 23 de fevereiro de 2022, Billy escapou novamente para o quintal onde estava Maia. Por ser um cão tão territorialista, Beto tem medo do cachorro ser maltratado. O veterinário Alessandro Kojima Cardoso, 38, recomenda a castração, inclusive para que Billy não cruze com cadelinhas por aí, aumentando a população de cães de rua. Beto diz que ele e a mãe estão avaliando, enquanto Janaína comemora o reencontro. "Fico feliz". Agora Billy é chamado de Billy Negão, num acordo entre as partes.

Fonte: UOL 

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