OPINIÃO: que excelente comprovar que a liberdade é possível para animais presos em zoo quando há esforço e boa vontade. Uma vida nova para Pocha e Guillermina!
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Cerca de 150 quilos de comida por dia, centenas de litros de água, dezenas de pessoas mobilizadas 24 horas diárias e um longo caminho por terra ou pelo ar. Tudo isso com poucas horas de sono em pousadas e hotéis à beira das estradas e até em acampamentos improvisados.
É dessa maneira que o SEB (Santuário de Elefantes Brasil), primeiro santuário de elefantes da América Latina, já transportou 9 elefantes em 7 viagens para Chapada dos Guimarães, na região metropolitana de Cuiabá.
A equipe do SEB detalha como é feito esse trabalho, iniciado em 2016, para dar aos animais resgatados um final de vida com dignidade e tranquilidade.
Daniel Moura, biólogo e diretor do santuário, explica que após a autorização para o resgate dos elefantes os especialistas estabelecem um prazo de 30 dias até o início da viagem, para o planejamento de logística e a mobilização da equipe, que conta com médicos veterinários, biólogos, tratadores, designers, advogados e publicitários, que trabalham nas mais diversas demandas.
Nesse período são traçados roteiros, com paradas e locais para o descanso do grupo, é feita a preparação dos alimentos como frutas, verduras, fenos e folhas, e de todo material necessário para o transporte, como as caixas e guindastes.
A PRF (Polícia Rodoviária Federal) auxilia na elaboração de um plano de segurança —na primeira viagem, que trouxe Maia e Guida ao santuário em outubro de 2016, tantos curiosos se aproximaram do caminhão para admirar as elefantas, que foi necessário escoltá-lo pelas rodovias.
Quando os animais são resgatados de outros países, as equipes que os acompanham chegam a ter quase 30 participantes. É o que aconteceu no caso de Pocha e Guillermina, as mais novas moradoras do santuário, que chegaram a Chapada dos Guimarães na última quinta (12), após cinco dias de viagem desde Mendoza, na Argentina.
Nas paradas para alimentação dos animais, a equipe também se alimenta. Já para dormir, são escolhidos pousadas e hotéis de beira de estrada. "Dormimos entre quatro e seis horas, no máximo, para que possamos manter a programação de data e hora da chegada", conta Daniel.
Durante a pandemia, quando a elefanta Mara foi resgatada de Buenos Aires, os percalços da viagem foram ainda maiores. Era maio de 2020, e "ficou mais difícil conseguir pousada e hotel, então parte da equipe teve que acampar em postos de gasolina e perto das pousadas onde conseguimos quarto para alguns, apenas", conta Daniel.
Quanto ao custo total da operação de transporte, o SEB afirma que ele varia a cada viagem, a depender das parcerias que são feitas e dos valores de mercado, mas elas não saem por menos de R$ 200 mil. No caso da primeira viagem por exemplo, só as duas caixas de transporte custaram R$ 80 mil. No caso da última viagem, houve uma campanha para arrecadar R$ 50 mil apenas para a alimentação das duas elefantas.
O maior gasto em transporte ocorreu em 2019, quando a viagem ocorreu em duas etapas. A primeira, de avião, partindo de Santiago (Chile) para o aeroporto internacional de Campinas (a 93 km de São Paulo). Após três horas de voo, a equipe foi por terra até o santuário. O custo total foi de mais de R$ 600 mil, obtidos através de doações.
O biólogo lembra que o cuidado durante a viagem é redobrado, porque as elefantas são transferidas para o santuário sem serem sedadas e são monitoradas por meio de câmeras instaladas dentro das caixas de transporte. Durante a viagem, os elefantes tiram pequenos cochilos de pé. Aliás, segundo o especialista, esses animais não costumam dormir em locais planos. Eles preferem lugares inclinados para se escorarem, o que facilita na hora de levantar.
Todas as sete viagens foram feitas pela mesma equipe, que acumula experiência para que a jornada seja tranquila e que os animais cheguem ao santuário com um baixo nível de estresse.
Apenas em duas ocasiões foram transportados dois animais de uma vez. A primeira, com Maia e Guida, e a última com a mãe e filha, Pocha e Guillermina, respectivamente. Todos os elefantes já resgatados são fêmeas e da espécie asiática.
Atualmente, vivem no santuário Maia, Rana, Lady, Mara, Bambi, Pocha e Guillermina. Guida morreu em junho de 2019, e Ramba, em dezembro do mesmo ano. A morte no santuário é algo que se tornará comum, já que os elefantes resgatados normalmente são idosos, viviam em lugares inapropriados e sofriam maus-tratos.
Quando um animal morre, a equipe do SEB o enterra no mesmo local de sua morte, após o luto dos outros elefantes. "Esse luto dura um dia. Eles sentem a perda, rodeiam o corpo e depois se afastam. Quando isso ocorre, a gente chama especialistas da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), para colherem material e atestar a causa da morte. Depois, enterramos com o aval da Secretaria de Estado de Meio Ambiente‘, explica Daniel.
O biólogo prevê mais viagens para este ano. Tamy, pai de Guillermina, aguarda a autorização para deixar a Argentina e se juntar a sua família. Kenya, uma elefanta africana de 35 anos também deve se mudar para o santuário, assim como Sandro, que espera em Sorocaba (a 83 km de São Paulo) o aval para a jornada.
O SEB é o primeiro lugar da América Latina destinado à conservação desses animais.
Com 1.100 hectares —o equivalente a sete parques Ibirapuera—, o local tem uma área médica, tanques de água e um setor de alimentação. Os elefantes recebem cuidados diários e podem percorrer uma área de 29 hectares, adaptada para o monitoramento.
Fonte: Folha de SP
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