OPINIÃO: O destino escreve histórias e mais histórias..... Acompanhe o Lar dos Pancinhas
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A administradora paulistana Érica de Caria, 46, sempre esteve habituada a viver na metrópole. Porém, sua vida deu uma guinada quando, em 2020, se mudou para um pequeno povoado de pescadores na zona rural do Ceará. Por lá, ela encontrou dezenas de jumentos que viviam abandonados nas ruas e passou a lutar para que eles tivessem direito a alimentos e a um lar.
Após viver cinco anos em Fortaleza com o marido, cuidando de uma pousada, veio a pandemia e o negócio fechou. Érica recebeu uma proposta de trabalhar em uma pousada de luxo em Caetanos. Logo que chegou ao povoado, em janeiro de 2021, ela notou a presença de vários jumentos vagando pelas ruas de terra.
Depois, percebeu que a vila não possuía farmácia ou supermercado. Também não tinha barzinho ou casa noturna. Ela até pensou em voltar para Fortaleza, mas acabou se apresentando na pousada.
Caetanos, no município de Amontada, tem pouco mais de 4 mil habitantes. Suas ruas são de terra e seus moradores ainda guardam antigos costumes. Mas a modernidade já se faz presente por lá, como a instalação de sinal de internet, há sete anos. E, com os novos tempos, o antigo meio de transporte e carga, o jumento, passou a ser substituído pela motocicleta.
Durante os 30 dias que permaneceu trabalhando, o marido foi visitá-la, gostou do povoado e sugeriu que abrissem eles mesmos uma pousada lá. Descontente com o emprego, ela passou a procurar uma casa para morarem e transformarem em hospedagem. Dois dias após a mudança, em março de 2021, foi demitida.
Supla e Dona Marta
A partir daí, ela passou a se dedicar à própria pousada, que abrigava hóspedes aos finais de semana, já que durante a semana não havia movimento. Um dia, quando trabalhava no quintal do imóvel, avistou na rua um filhote de jumento que se aproximava, com o pelo castanho muito claro e crina espigada. Ele estava com a mãe.
"Na frente da casa tinha um terreno baldio e eles foram para lá. Eu notei que ela mastigava alguma coisa e, quando me aproximei, vi que era papelão. O filhote brincava ao lado dela e ocasionalmente mamava um pouco. Liguei para a minha filha, que estuda veterinária e mora em outro estado, e perguntei o porquê de ela estar fazendo aquilo. E ela me respondeu: 'É o desespero da fome, mãe'. Aquilo cortou meu coração. Eu precisava fazer alguma coisa."
Érica entrou na casa e buscou algumas frutas e um pouco de ração de gatos. Apesar do medo de se aproximar, a fêmea acabou se alimentando e foi embora. No dia seguinte, ela e o filhote voltaram. Érica os alimentou novamente e apelidou o filhote de Supla e a mãe, de Dona Marta.
Assim, de maneira informal, ela foi cuidando dos animais até que um dia eles apareceram com outros três jumentos, também famintos e atraídos pelo cheiro da ração. Uma semana depois, surgiram mais sete e, na semana seguinte, outros sete.
Os cuidados então se transformaram em um projeto: O "Lar dos Pancinhas". Com o espaço da pousada já insuficiente e enfrentando a resistência do marido e dos hóspedes, o casal se separou e Érica se mudou para uma casa nas proximidades, em setembro de 2021.
A alegria de volta
A essa altura, ela já havia criado perfis nas redes sociais para mostrar o dia a dia dos animais e pedir ajuda aos internautas. Em janeiro de 2022, após muitas discussões com os vizinhos, que reclamavam do mau cheiro e do barulho causado pelos jumentos, Érica decidiu buscar um terreno maior, onde pudessem correr soltos e, ao mesmo, tempo, ela conseguisse cercá-los.
Atualmente, ela vive numa casa de colono muito simples, instalada no terreno, com 57 jumentos, três recém-chegados à família cuidada pela "Mãe dos Pancinhas", como é conhecida. Além deles, ela também abriga nove cães e três gatos e ainda um cavalo que seria sacrificado após ter a pata quebrada. Todos os meses, são consumidos centenas de quilos de ração e feno, que Érica luta para conseguir.
"Depois que perdi minha mãe, fui tomada por uma tristeza muito grande. E os "pancinhas" trouxeram a alegria de volta. Eu os salvei e eles me salvaram. Todos eles têm nomes e alguns já atendem quando eu os chamo", diz a cuidadora. Richarlison, Pequena Eva, Nega, Francisco, Jimmy Page, Chokito, Gretchen e Sasha são alguns dos nomes escolhidos.
"Preciso de ajuda para continuar tocando o projeto. Hoje, a estimativa mensal de gastos com ração, remédios, veterinário, um ajudante e contas básicas chega a R$ 16 mil. E eu não recebo ajuda voluntária de veterinários e nem de governos. Tive que dispensar o único funcionário que eu tinha e quem me ajuda bastante são as crianças da comunidade, apaixonadas pelos 'pancinhas'".
Érica passa a manhã e até a noite cuidando dos animais. Depois de alguns perrengues que enfrentou com a gravidez das fêmeas, hoje a maioria dos machos são castrados. A cuidadora diz que já pensou várias vezes em desistir. Mas diz que logo se lembra o que a mantém tocando o projeto: o amor que recebe de cada um dos animais.
"Cada um deles têm sua personalidade, mas são todos carinhosos. Muitos chegam traumatizados, porque o povo daqui chuta, dá pauladas, eles odeiam os jumentos, mesmo sabendo que estão em risco de extinção. Depois que a modernidade chegou, só querem saber das motocicletas. E os jumentos viraram sacos de pancada que eu recolho com todo o carinho e levo para o "Lar dos Pancinhas".
Fonte: UOL
sim, já ñ tem mais "serventia", entao são enxotados...abençoada sra. que os acolhe e cuida...só faltou como auxiliar ela no projeto.
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