OPINIÃO: um país no qual o tráfico de animais é extremamente negligenciado não é respeitado quando se fala em defesa dos animais nativos e do meio ambiente. Pobres ararinhas!
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Por Aldem Bourscheit
O Brasil pedirá a repatriação de ararinhas-azuis (Cyanopsitta spixii) e de outras espécies ameaçadas de extinção e exclusivas do país em cativeiros no exterior, afirmou o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) à reportagem de ((o))eco.
Conforme a autarquia vinculada ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), o poder público deve sempre resguardar a fauna nativa, uma obrigação que ganha peso quando está em jogo a sobrevivência de animais na beira da extinção.
“A repatriação de exemplares apreendidos ou que estejam de alguma forma sob condições irregulares no exterior é sempre uma possibilidade e o governo brasileiro manifestou publicamente, durante a reunião Cites ocorrida em 2023, que buscará repatriar ararinhas-azuis nessas condições”, diz o ICMBio.
A Cites é uma convenção internacional que permite o comércio de animais e plantas mesmo em perigo de extinção. Seu encontro de novembro do ano passado reprovou negócios com a ararinha-azul e a arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari), mesmo de criadouros registrados.
Ainda mais desafiador é assegurar que os animais cativos no exterior sejam mesmo de propriedade do Estado brasileiro.
“Dependendo da geração nascida em cativeiro, os animais podem ou não pertencer ao país. Além disso, se o criadouro firmou um termo de cooperação para conservação da espécie com o governo, esses animais seriam do Brasil”, resume Beto Polezel, biólogo e mestre em Conservação de Fauna pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
A ACTP, sigla em Inglês da Associação para a Conservação de Papagaios Ameaçados de Extinção, mantém 267 ararinhas-azuis na Alemanha. Um acordo conservacionista com a entidade não foi renovado pelo Governo Brasileiro, neste junho. O envio de ao menos parte desses animais ao Brasil, para reforçar a recuperação da espécie, não é assegurado, revelou ((o))eco.
Mais dessas aves são cativas nos zoológicos privados Pairi Daiza (22), na Bélgica, e Greens Zoological, Rescue and Rehabilitation Centre (26), na Índia, no Zoológico de São Paulo (27), concedido à iniciativa privada em 2021, e num criadouro mantido por ACTP e ICMBio na baiana Curaçá (40).
Todavia, o retorno de animais comprovadamente brasileiros ao país ainda não tem data marcada. O órgão ambiental federal conta que isso depende de quesitos como negociações diplomáticas e arranjos logísticos entre os países envolvidos.
“O estado brasileiro sempre irá trabalhar para que nossa fauna esteja adequadamente protegida e para que os animais sob cuidados humanos (em cativeiro) possam contribuir da melhor forma possível para a conservação de sua espécie”, comenta o ICMBio.
Consultada por ((o))eco, a base da dados da Cites aponta 981 importações e 1.681 exportações de ararinhas-azuis de 1981 a 2021 e entre dezenas de países, como Brasil, Chile, Qatar, Alemanha, Estados Unidos, Reino Unido, Paraguai e Filipinas.
A falta de dados pós 2021 se deve a fatores como supostamente não ter havido comércio da espécie no período, ou o país ou criadouro registrado não terem apresentado seus balanços anuais sobre movimentações de espécies monitoradas pela Cites, informa sua assessoria a ((o))eco.
Em fevereiro de 2023, como registramos, 26 ararinhas-azuis e 4 araras-de-lear foram repassadas da ACTP para o indiano Greens Zoological, Rescue and Rehabilitation Centre. A operação não teria sido comercial, mas para oferecer melhores condições aos animais, afirmou a entidade alemã.
A ararinha-azul é reintroduzida em ambientes na Caatinga porque foi extinta da natureza por caça, tráfico e desmatamento, no início dos anos 2000. Da arara-de-lear ainda voam livres cerca de 2,2 mil aves, também no interior da Bahia.
Fonte: O Eco
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