OPINIÃO: agora precisamos de uma nova pesquisa para descobrir como manter esses animais em segurança!
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A seca alterou o sistema de cheias do Pantanal e a maior planície alagável do planeta não alagou. O clima é tema de preocupação no bioma que ocupa uma área de mais de 150 mil km² em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Não é de hoje que a região enfrenta a estiagem. Agricultores comentam que uma outra seca severa afetou a região na década de 60, mas dessa vez, com as mudanças climáticas, não dá para saber ao certo o quanto o regime de chuvas será impactado.
Apesar de ser um imenso reservatório de água, o Pantanal não tem nascentes, por isso ele depende de rios que nascem fora do bioma e que estão cada vez mais assoreados e desprotegidos por causa do desmatamento.
Este ano, os cientistas estimam que o solo absorveu menos de 40% da umidade das chuvas de verão, que duraram menos tempo. Além disso, mais da metade da água da região não existe mais, segundo pesquisa da MapBiomas, rede formada por ONGs, universidades e empresas de tecnologia
Destruição
Com a seca, o período de cheia está ficando mais curto e a temperatura média está subindo, formando uma combinação perigosa para o Pantanal, que resulta no fogo.
Em 2020, as chamas destruíram mais de 3 milhões de hectares do bioma, no que foi considerada a maior catástrofe ambiental que ele já sofreu. A devastação teve uma área maior do que a do estado de Alagoas.
O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Pantanal Walfredo Tomas faz parte de um grupo de cientistas que percorreu as áreas queimadas para fazer um inventário do impacto na fauna, contabilizando quantos animais foram perdidos. A estimativa é de que no mínimo 17 milhões de vertebrados morreram.
Segundo Tomas, esse número é subestimado porque os animais de grande porte, quando morrem, vão estar em cima da terra, mas os animais que usam tocas, como serpentes, roedores e tatus, podem ter morrido embaixo da terra e não serem encontrados.
Sabendo que cada espécie tem uma função ambiental para manter o equilíbrio do Pantanal, uma perda imediata desse porte desestrutura todo o sistema e com a vegetação é a mesma coisa. Após a queimada, espécies invasoras ganharam espaço.
Agricultura prejudicada
Angêla e Firmiano Caldas Neto vivem há 22 anos em um sítio em São Pedro de Joselândia, em Barão de Melgaço. Na área, eles mantêm um rebanho de 12 cabeças de gado, a principal fonte de renda da família. Alimentar os animais se tornou um desafio por causa da estiagem.
A região não tem alagado nos últimos 2 anos, fazendo com que o pasto fique completamente seco. O criador explica que assim faltam nutrientes para o gado e ele tem que gastar mais com ração.
A água que vem da rua só chega em dias intercalados e o poço que mantinha o abastecimento da casa secou. Como consequência, as plantações de banana, batata e mandioca do casal morreram.
Ciência como resposta
Para descobrir como lidar com esse novo ambiente afetado pelos incêndios, pesquisadores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) farão queimadas controladas e programadas para estudar a área.
A queima está sendo realizada em áreas do Pantanal, que têm cobertura vegetal e níveis de inundação diferentes. Os técnicos e pesquisadores observam o comportamento do fogo em condições climáticas variadas e o impacto na fauna e na flora.
Em MT, o experimento está sendo feito na reserva particular do Patrimônio Natural do Sesc, que fica em Barão de Melgaço. Quatro áreas foram selecionadas pela pesquisa, uma mantida intacta para comparação e nas outras 3 as queimadas controladas serão realizadas em períodos diferentes.
Os cientistas usam uma câmera multi-espectral, que capta informações como temperatura. Com isso, eles podem mapear e classificar o ambiente de cobertura vegetal antes e depois da queimada, explica Gustavo Nunes, coordenador do laboratório de sensoriamento remoto e geotecnologia da faculdade de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
A pesquisa é pioneira no Brasil, analisa a pesquisadora do ICMBio, Luane Lima. Ela diz que vão usar o DNA presente no solo para identificar os animais que passam nos locais antes de depois da queimada. A partir daí vai ser possível saber quais estão retornando para o habitat.
Outras linhas de pesquisa também estão em andamento. Felipe Arruda, do Instituto Nacional de Pesquisa do Pantanal (INPP) e Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), instala armadilhas para identificar quais animais ainda circulam lá.
Ele comenta que coleta principalmente aranhas, formigas e besouros, que são bio-indicadores, ou seja, eles respondem rapidamente aos distúrbios, tanto ao fogo quanto à inundação.
Novas queimadas são agendadas para o período mais crítico da seca e para o início das chuvas. O resultado do estudo vai ajudar a definir políticas públicas de preservação do Pantanal.
Além da pesquisa, os cientistas conseguiram dinheiro com entidades parceiras para financiar as ações de prevenção ao fogo, como a compra de equipamentos. Em paralelo, moradores se organizam para montar uma brigada comunitária de combate a incêndios da região.
Fonte: G1
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