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08 novembro 2021

Esterilização de capivaras pode dar certo em BH


OPINIÃO:
caso difícil de comentar, embora seja um procedimento invasivo que preserva a vida dos animais, que, infelizmente, são obrigados a conviver em uma área urbanizada, marca também a supremacia humana em relação à natureza. 
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A esterilização de capivaras, solução anunciada pela Prefeitura de Belo Horizonte para a situação dos animais que vivem na Lagoa da Pampulha, já foi aplicada, com sucesso, na cidade de Viçosa, na Zona da Mata. A decisão foi tomada em uma reunião com representantes da prefeitura, do Ministério Público de Minas Gerais e técnicos, quando foi apresentado o projeto realizado na Universidade Federal de Viçosa (UFV) que enfrentou o mesmo problema há alguns anos. A ação foi coordenada pelo professor do Departamento de Veterinária da universidade, Tarcízio Antônio Rego de Paula, que detalhou como foram realizados os procedimentos em entrevista ao em.com.br.

Ele explica que as capivaras que habitavam o campus de Viçosa vieram do Ribeirão São Bartolomeu, que é ligado ao conjunto de lagoas da universidade. Elas se reproduziram com facilidade e a população chegou a cerca de 100 animais, há cinco anos. Com os roedores, vieram os carrapatos. “Nós tivemos aqui também uma infestação grande de carrapatos nos gramados e ficou próximo do impraticável. A quantidade era tamanha que estava afetando as pessoas na pista de caminhada”, explica o veterinário. Além da comunidade universitária, moradores da cidade e turistas estavam expostos aos riscos ao passear pela área verde.

Especialista em reprodução de animais silvestres, Tarcízio montou uma equipe para trabalhar na criação de um plano de manejo dos animais. Inicialmente, cavalos foram usados como isca para os carrapatos no campus. Eles eram recolhidos no fim do dia e passavam por uma higienização, quando os carrapatos eram removidos. O procedimento foi bem sucedido. O próximo passo era tentar afastar os carrapatos das capivaras. Para isso, foi desenvolvido um colete que aplicava carrapaticida sobre a pele das capivaras. O equipamento, que valia por três meses, também diminuiu a presença dos parasitas nos roedores.

Outro procedimento fundamental foi a vasectomia dos machos e a laqueadura das trompas das fêmeas. “Isso é necessário porque não interfere no comportamento do animal”, explica Tarcízio Antônio. “Se você castrar um macho de capivara, ele perde a capacidade de reprodução, mas também perde a capacidade de manutenção do grupo e é substituído”, explica. Nessas situações, o novo macho dominante seria um animal fértil e outras capivaras poderiam se aproximar. Depois da cirurgia, os roedores voltavam ao habitat sem qualquer prejuízo ao comportamento. “Fato é que com a perda natural que acontece, tivemos uma redução enorme nesses quatro ou cinco anos que estamos trabalhando aqui. Hoje temos meia dúzia de animais, mais velhos”, explica.

A medida tomada em Viçosa descartou a possibilidade do sacrifício dos animais ou do remanejamento para outras áreas verdes – o que poderia levar os carrapatos para outros locais, onde poderiam entrar em contato com outros animais (silvestres e domésticos) saudáveis. O professor informou, ainda, que se disponibilizou a oferecer um treinamento técnico aos profissionais da empresa que fizeram a captura das capivaras em BH para que eles possam fazer os procedimentos adotados no campus da UFV, como a cirurgia de esterilização. Em Belo Horizonte, 46 animais aguardam o procedimento em bretes localizados no Parque Ecológico, onde recebem alimentação e cuidados veterinários.

“É um conjunto de ações que eu acredito que se não solucionar pode diminuir bastante. Tudo deve ser feito a médio e longo prazo. Nós levamos de três a quatro anos para chegar numa quantidade de animais aceitável, mas tudo depende do engajamento e do investimento feito na ação, e na necessidade de resolver o problema”.

Outra situação que preocupou as autoridades da capital é que os mamíferos estavam pisoteando e danificando as plantas dos jardins de Burle Marx, reformados em 2013. Uma das sugestões do especialista é que vigias se posicionem em locais estratégicos, acompanhados de cães, que podem afastar as capivaras. O uso de cercas com telas, mesmo que temporariamente, também foi sugerido.

Das 46 capivaras capturadas na Pampulha, 28 apresentaram contaminação pela bactéria causadora da febre maculosa. Para diminuir as chances de transmissão, a prefeitura está distribuindo folhetos com série de cuidados que devem ser tomados pelos frequentadores do local. O especialista da UFV considera a medida importante, mas ressalta que a manutenção dos animais é fundamental. “A única ação preventiva é a retirada dos carrapatos, que implica também na diminuição das capivaras. Essa é a ação que precisa ser focada”, afirma. “É uma ação importante, mas ela sozinha não vai diminuir o risco por si só”, finaliza.

Na semana passada, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente informou que a prefeitura de BH está providenciando a realização dos procedimentos cirúrgicos nas capivaras, solicitação que será submetida ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama). Por telefone, o secretário de Meio Ambiente e vice-prefeito da capital, Délio Malheiros, disse que os procedimentos estão em andamento e que ainda não há previsão para a retirada das capivaras que estão nos bretes. Elas devem ser liberadas após esterilização. Ainda não se sabe se o método das iscas e os coletes com carrapaticidas serão utilizados.

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