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11 dezembro 2021

Búfalos abandonados ficaram 30 dias sem comida e 20 sem água, diz laudo


OPINIÃO:
quando mais se investiga, mais esse caso ganha contornos assustadores. Um verdadeiro holocausto animal. Por que esse pecuarista ainda não está preso? A impunidade desse caso é deplorável!
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Búfalos abandonados em Brotas, no interior de São Paulo, ficaram um mês sem comida e 20 dias sem água, uma situação de privação que levou muitos deles à morte. Algumas fêmeas que estavam prenhas perderam a vida durante o parto, assim como seus filhotes.

O cenário desolador consta de laudo de veterinários sobre a morte de búfalos, em um rebanho de cerca de mil cabeças, da fazenda São Luiz da Água Sumida. O parecer foi feito a pedido de uma ONG de proteção animal e será entregue à polícia.

A Polícia Civil do município pediu nesta quinta-feira (9) a prisão preventiva do dono da fazenda, Luiz Augusto Pinheiro de Souza. O Ministério Público Estadual ainda vai analisar se aceita o pedido de detenção do investigado —a defesa dele informou que vai recorrer do pedido da polícia.

O inquérito policial foi encerrado nesta quinta. Souza é acusado de abandonar os animais —a maioria fêmeas e muitas delas prenhas— sem comida e sem água por um longo período.

Um laudo preliminar de especialistas da USP (Universidade de São Paulo) e Unesp (Universidade Estadual Paulista) apontou que o proprietário da fazenda "foi complemente negligente no manejo dos animais, não demonstrando preocupação com o seu rebanho, com os rebanhos vizinhos, com a saúde pública, com a poluição ambiental e a fauna nativa".

O segundo laudo a ser apresentado nesta semana à Justiça pela advogada Antília Reis, que representa a ONG-ARA, hoje responsável pelos animais, concluiu que muitos dos búfalos ficaram ao menos 30 dias sem comida e 20 dias sem água, condição que pode ter resultado na morte de muitos deles.

O parecer é assinado pelos médicos-veterinários Caroline Souza Machado, Maurice Gomes Vidal e Daniel Ribeiro de Oliveira. Eles elaboraram o documento a pedido da ONG.

Ainda não se sabe quantos dos 1.056 búfalos cadastrados na fazenda morreram, mas a estimativa é que sejam ao menos 200.

Segundo a advogada, perto de 40% das fêmeas identificadas estão prenhas, o que indica um novo problema.

"Muitos bezerros devem nascer agora em janeiro, mas a preocupação é enorme, porque as mães não terão leite a oferecer, tal o grau de desnutrição delas", disse a advogada.

No laudo preliminar, que foi anexado ao processo no dia 21 de novembro, os veterinários constataram que muitas fêmeas prenhas abortaram devido à precariedade nutricional. Perderam seus bezerros em fase final de gestação ou morreram no parto.

"Quase todos os animais identificados perderam de 50% a 60% do peso. Todos os sobreviventes estão com a saúde altamente comprometida para o resto de suas vidas", afirma ela.

O documento aponta ainda que, em virtude das semanas de privação hídrica e alimentar, os animais se encontravam em estágio de caquexia (perda de tecido adiposo e músculo ósseo), com desnutrição severa e com o escore corporal médio 2 (escala de 1 a 5).

Exames de sangue básicos realizados em alguns búfalos mostraram que a maioria dos animais não conseguia andar, se manter em pé ou, ao se deitar, não conseguia se levantar. Segundo o laudo, essa condição indica quadro severo ou moderado de anemia.

Muitos dos animais foram encontrados com lesões de pele, em consequência do longo período de decúbito (quando permaneciam deitados). Essas lesões de pele acabaram atraindo a presença de larvas de moscas e com elas novas infecções de pele.

O relatório feito pelos veterinários conclui que "está claro que todos os indicadores de bem-estar animal se encontram em desacordo com o necessário, encontrando-se todos os animais em situação de maus-tratos".

Rodrigo Carneiro Maia, advogado do fazendeiro, afirmou que "todos os laudos juntados serão alvo de aferição técnica". Disse ainda não ter tomado conhecimento do laudo preliminar dos três veterinários.

O investigador de polícia, Mario de Barros, que também é vereador na cidade, disse que a polícia foi informada sobre a existência desse laudo apresentado pela ONG.

"Trata-se de um laudo preliminar. Eles (os animais) ficaram uma grande quantidade de dias comendo alimento de baixa qualidade e com pouco recurso hídrico para se hidratarem", disse o investigador.

Um inquérito civil foi aberto no Ministério Público para apurar o caso de maus-tratos.

Entre as diligências determinadas pelo promotor de Justiça Cássio Sartori estão a requisição de documentos relativos à fazenda e a conclusão de um laudo elaborado pelo Centro de Apoio à Execução da Promotoria.

O órgão ainda aguarda a conclusão dos inquéritos policiais para analisar as possíveis responsabilizações penais.

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