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02 janeiro 2022

Exportação de gado vivo gera denúncias e ação judicial


OPINIÃO:
o transporte de animais vivos por meio marítimo é uma das maiores atrocidades legalizadas contra animais. Esses seres vivos podem ficar até mais de um mês em situações de extrema negligência e maus-tratos apenas para desembarcar em direção à morte. É hora dos países de unirem e banirem essa prática imediatamente. É bárbaro e medieval! 
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Após embarcar 44,3 mil toneladas de bovinos vivos para o exterior em 2018 e responder por quase 30% das exportações desse tipo no país no ano passado, o Rio Grande do Sul provocou a reação de ativistas e parlamentares com a proximidade do embarque de 20 mil bezerros vivos para o Egito.

O escritório regional da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr) em Pelotas registrou dois pedidos de quarentena de animais em confinamento em dois estabelecimentos de Pré-Embarque (EPEs), nos municípios de Rio Grande e Cristal.

De janeiro a outubro de 2019, o estado exportou 123.092 animais, quase 1% do rebanho gaúcho, que é de 12,7 milhões de cabeças. Em 2018, foram embarcados no terminal portuário de Rio Grande 118 mil reses vivas para exportação.

Nesta quarta-feira, 29, foi concluído o embarque de 11.465 terneiros no Porto de Rio Grande, com destino ao Egito. A operação começou na segunda-feira, com o transporte dos animais do EPE Cristal até a Unidade de Vigilância Agropecuária (Uvagro) do Ministério da Agricultura no porto. Os animais foram transportados em grupos menores, computando um total de 207 viagens entre o EPE e o porto. O último grupo de terneiros saiu do EPE Cristal durante a madrugada.

A Secretaria da Agricultura informou que os animais não são expostos a sofrimento. “Somos todos profissionais, em sua maioria médicos veterinários, então a gente se preocupa com o bem-estar animal e o respeito à vida. O animal não é um objeto inanimado, que se coloca num caminhão e larga dentro de um navio. Eles têm um comportamento particular, de rebanho, então tudo isso tem que ser respeitado”, argumentou a supervisora regional da Seapdr em Pelotas, Liege Furtado.

Conforme o superintendente dos Portos do Rio Grande do Sul (Portos RS), Fernando Estima, no dia 23 foram embarcados 13 mil terneiros vivos para a Turquia, operação que movimentou em torno de US$ 6,5 milhões, ou R$ 36 milhões. Ele afirmou que o Rio Grande do Sul é o terceiro exportador de boi vivo do Brasil, atrás apenas de São Paulo e Pará.

Manifestações em Porto Alegre e Rio Grande

O Setorial Nacional de Direitos Animais do Partido dos Trabalhadores (PT), parlamentares e ativistas protestaram e denunciaram a exportação de gado vivo no Rio Grande do Sul. Atos públicos em Porto Alegre e Rio Grande nesta quarta-feira, 29, repudiaram o embarque de pelo menos 20 mil bezerros vivos para o Egito, em uma viagem que deverá durar aproximadamente 20 dias.

Durante a madrugada, um acidente com dois caminhões que transportavam gado vivo resultou em mortes de diversos animais e ferimentos em reses que precisaram ser sacrificadas.

A deputada estadual Sofia Cavedon (PT/RS) afirmou que vai protocolar na Câmara um projeto de lei para banir a prática no estado. Ao menos outras três proposições que vetam as exportações de cargas vivas tramitam no Congresso.

“Sujeitar animais a uma viagem de 20 dias em alto mar, sem qualquer conforto térmico, em local insalubre, fétido, sem espaço para locomoção, é uma tortura que fere os animais não humanos e a Constituição brasileira, que proíbe o maus-tratos aos animais. Estamos num patamar civilizatório em que o sofrimento animal injustificado não é mais tolerado pela sociedade”, argumenta a parlamentar.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PT/PR), também se manifestou em suas redes sociais com uma nota de repúdio à exportação de gado vivo. A dirigente ressaltou que a prática é um ato de crueldade com os animais, ruim para a economia e representa riscos à saúde humana e ao meio ambiente.

Interesses restritos e crueldades

Vanessa Negrini, coordenadora Nacional do Setorial de Direitos Animais do PT, reiterou que exportar animais vivos como commoditie é cruel e péssimo negócio para o Brasil.

“Na contramão de boa parte do mundo, o Brasil segue exportando gado vivo, para atender a interesses de pequena parcela de pecuaristas que deseja lucrar com base na tortura e sofrimento animal. No entanto, é o país quem perde empregos, arrecadação de impostos e arca com os prejuízos ambientais e riscos pandêmicos”, destacou.

O deputado federal e presidente estadual do partido, Paulo Pimenta, afirmou que haverá uma mobilização pela aprovação do projeto que veta a exportação de gado vivo no RS e alertou os riscos dessa prática na pandemia.

“Com a covid-19, um número crescente de países está limitando ou eliminando totalmente a prática do transporte de animais vivos. Não podemos brincar com a vida das pessoas e dos animais. Os epidemiologistas da Organização para Alimentos e Agricultura da ONU estão entre os maiores críticos da exportação de animais vivos por favorecer a propagação de doenças”, destacou.

Bezerros vivos

Uma ação judicial relativa ao embarque de cerca de 11 mil bezerros no navio Elevation, que chegou ao Porto de Rio Grande no dia 18 de novembro, foi ajuizada pelas ONGs Princípio Animal e Mercy For Animals.

Preocupadas com o bem-estar dos animais, as duas organizações e o Fórum Animal monitoram a movimentação de navios que transportam animais vivos e acionam o poder judiciário com o objetivo de suspender os embarques.

Outros grupos de ativistas também atuam pelos direitos dos animais. Desde 2012, quando o ritmo das exportações acelerou, o Brasil exportou em média 400 mil bois vivos por ano. O principal destino dos animais é o Oriente Médio, “onde eles costumam ser abatidos de forma brutal após uma longa e árdua viagem de mais de 20 dias em meio a fezes, urina e temperaturas elevadas”, denunciam os ativistas.

Em nota na antevéspera do Natal, a Setorial de Direitos Animais do PT manifestou repúdio pela retomada da exportação de gado vivo no Rio Grande do Sul, marcada para ocorrer no dia 25 de dezembro. “A exportação de gado vivo não é taxada, ela não gera riqueza para o país. A operação também não gera emprego no Brasil, mas nos países compradores, onde o abate é feito”, reitera.

Os 20 mil bezerros exportados para o Egito são mantidos em confinamento em dois estabelecimentos de pré-embarque, localizados em Rio Grande e Cristal e serão confinados durante 20 dias de viagem à razão de 23 animais em cada 21 metros quadrados. “Esses animais enfrentarão um longo calvário até a morte, que ocorrerá em processo sem qualquer tipo de insensibilização, conforme previsto nas leis brasileiras”, lamenta o comunicado assinado pelas coordenadoras nacional e estadual da Setorial, Vanessa Negrini e Marcelle Nogueira Toscani.

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