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13 junho 2024

Maior abrigo de animais de Porto Alegre (RS) enfrenta queda no número de voluntários


OPINIÃO:
 com a redução da comoção, as doações e ajudam também se tornará menor. Agora, cabe ao governo arcar com a responsabilidade por esses animais, pagando por veterinários e funcionários para auxiliar nos abrigos. 
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Por Júlia Ozorio de Abreu

O maior abrigo de animais de Porto Alegre enfrenta baixa de voluntários. O local, que fica no Vida Centro Humanístico, na Zona Norte, foi aberto em 5 de maio, em meio à enchente. Criado e gerido por voluntários, o espaço acolhe mais de 300 animais, que esperam por suas famílias de origem ou por um novo lar.
A reportagem de GZH esteve no local na manhã dessa quarta-feira (12) e constatou cerca de 10 voluntários atuando. O número, no entanto, já chegou a 80, indica a empresária Victória Trevisan. Há mais de um mês ela divide sua rotina entre afazeres profissionais, pessoais e o voluntariado no espaço. Ela relata sobrecarga daqueles que ainda persistem no cuidado dos cães e gatos abrigados no recinto, uma vez que menos pessoas estão se colocando à disposição da iniciativa.

“Nos primeiros dias, chegamos a ter mais de 80 pessoas ajudando em um dia. Agora, a média é de 15 a 20 ao dia. A gente não sabe o que vai acontecer nos próximos meses se não tivermos mais apoio”, diz a voluntária.

Humanístico desde os primeiros dias da tragédia climática. Ele chegou ao local no começo de maio, após realizar resgate de 35 cães no bairro Sarandi. Com experiência em manejo animal, se disponibilizou a ajudar a iniciativa. Apesar de não ter tido a residência atingida pela enchente, ele diz que, em razão da baixa disponibilidade de voluntários, já passou quatro dias morando no abrigo para conseguir vencer as demandas do local.

“Venho quase todo dia. Já bati 30 horas direto aqui dentro do abrigo. Também já fiquei quatro dias diretos, dormindo e vivendo aqui dentro. Tem uma demanda alta e foi diminuindo o número de pessoas. Então, esses quatro dias, eu acabei ficando, ajudando e fui indo”, relata.

Grande parte dos animais presentes no abrigo Vida Centro

Humanístico foi resgatada na enchente, enquanto outros já eram de rua. Muitos dos tutores seguem sem lar e estão na casa de amigos, parentes ou em abrigos. Por isso, o número de cães e gatos ainda é grande no espaço. Os voluntários estimam que o local já chegou a ter cerca de 600 animais.

Insatisfação

Voluntários presentes no abrigo relataram uma insatisfação com o apoio que está sendo ofertado pela prefeitura, que está disponibilizando 10 médicos veterinários e uma equipe de limpeza para apoiar o cuidado do local. Segundo quem está na linha de frente do abrigo, esse apoio é importante, mas insuficiente tendo em vista todas as demandas do local.

“Hoje a gente tem seis ambientes. Um local onde ficam os animais que precisam de mais doutrina. Outros que são para filhotes, idosos, doentes. Tem um local separado para gatos. A gente também criou uma rotina: das 7h às 8h a gente alimenta eles (os animais). Das 9h em diante, a gente começa com os passeios e limpeza dos boxes”, explica Souza.

Outra preocupação, contextualiza Cristiano Gomes, professor da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), diz respeito ao controle de doenças no recinto. Junto com outros três professores da universidade, ele apoia a iniciativa desde o começo. Este apoio conseguiu levar residentes do Hospital de Clínicas Veterinárias da UFRGS, alunos e técnicos para realizar atendimentos no abrigo. Atualmente, há 18 alunos da universidade com bolsas para atuar emergencialmente no local, com revezamento de atendimentos.

Mesmo com essa ajuda e com os veterinários contratados pela prefeitura, Andrei Souza relata que houve dois episódios de animais doentes em massa no local. Em um deles, cerca de 40 cães foram vitimados por cinomose, entre filhotes e adultos. No outro, a doença parvovirose canina acometeu mais de 10 cachorros.

A secretária do gabinete da Causa Animal de Porto Alegre, Fabiana Ribeiro, explica que há veterinários atuando em todos os abrigos da Capital, assim como equipes de limpeza. No Vida Centro, há 10 profissionais de saúde veterinária de forma fixa. O gabinete, segundo ela, levou ainda 200 vacinas polivalentes ao abrigo para reforçar os cuidados de saúde dos animais.

Ela ainda afirma que há uma previsão de contratação de cerca de cem pessoas para atuar, a partir da próxima semana, nos abrigos de animais da Capital. Estes profissionais serão pagos pela prefeitura. A previsão é de que deste total cerca de 20 atuem no Vida Centro.

“O próximo passo será a castração dos animais. Também estamos prevendo a abertura, no próximo mês, de um grande abrigo no bairro Glória para remanejar e acolher os animais que estão em abrigos voluntários. A previsão é de que cerca de 2 mil animais sejam abrigados lá. O espaço contará com cuidados veterinários e profissionais contratados pela prefeitura”, explica a secretária.

Abrigo proporciona reencontros

Apesar dessas dificuldades, os voluntários remanescentes afirmam que proporcionar reencontros entre animais e tutores é um dos fatores que impulsiona o trabalho.

“Quando vem um tutor procurar (o animal), é uma sensação muito boa, porque a gente vê que as pessoas realmente amam aquele animal, que se emocionam”, relata Victória.

Esse sentimento foi vivenciado nessa quarta-feira pelos voluntários do abrigo quando a moradora da Ilha da Pintada Aline Oliveira Vargas voltou para levar o cão Denzil para casa. Ela, que perdeu a casa durante a cheia, conta que priorizou salvar a família e os animais – um gato e dois cachorros.

“Meus irmãos resgataram eles (os cães) com boias que as crianças brincavam. O gato saiu dentro de um cooler. A gente conseguiu uma casa em Cachoeirinha e os cachorros ficaram aqui, o gato foi conosco. Eu estava preocupada demais com eles. Não tem como não ficar, né? São nossos animais, estão desde pequenos conosco”, diz a moradora, que só conseguiu acessar a Capital na manhã dessa quarta-feira.

Segundo ela, um dos cães ficará no abrigo por mais um tempo para realizar um procedimento veterinário, mas voltará para a família assim que possível.

“Me emocionei quando vi eles (os cães). Fiquei triste também que tem vários animais que ainda não acharam o tutor”, encerra.

A iniciativa mantém um cadastro para interessados em adotar ou ser lar temporário desses animais. Também é possível ir diretamente ao abrigo (Baltazar de Oliveira Garcia, 2.132, no bairro Costa e Silva, em Porto Alegre), das 14h às 18h, de domingo a domingo, para se disponibilizar. É feita uma entrevista com o interessado para mapear o perfil do candidato a fim de encontrar o animal mais compatível.

Fonte: GZH

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