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29 julho 2024

Mistérios envolvem a origem do cachorro caramelo; entenda


OPINIÃO:
 os cães caramelos são os maiores símbolos de resistência e luta pela vida... Merecem todo o nosso carinho, amor e proteção. 
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Por Ana Lucia Azevedo

A ascensão do caramelo a sinônimo de vira-lata, ou cão sem raça definida (SRD), guarda mistérios mais complexos do que se pode imaginar. Rei de likes e memes, imperador de influenciadores, imune a polarizações de crença e ideologia, ele desafia as probabilidades genéticas. Isto porque a genética indica que o caramelo, em tese, não é ou não deveria ser a cor de cachorro mais comum, seja de raça ou SRD.
Por que cachorro raiz mesmo é o preto e suas variações, seja castanho-escuro, cinza e assemelhados. Esses tons são gerados por genes dominantes e deveriam ser os mais numerosos. Já os tons de caramelo e derivados, como amarelo, dourado, fulvo, marrom-claro, embora não sejam raros, são naturalmente menos frequentes que os escuros, afirmam os cientistas. No mesmo caso, estão os brancos e malhados.

Ninguém sabe quantos são os cães no Brasil (a última estimativa oficial do IBGE é de 2015 e eles somavam 52,2 milhões) e menos ainda quantos deles são caramelos. É desconhecido se no país, a despeito da genética, o caramelo de fato predomina, seja devido a uma mutação natural ou resultado da seleção de vira-latas feita pelo ser humano.

Um enigma felpudo

Unanimidade nas redes, os caramelos são enigma no mundo de carne e osso. Se eles não forem realmente os mais comuns, por que são tão populares, materialização da simpatia em quatro patas? E será que é justamente por que são tão populares que ficaram mais comuns ou isso é um viés de observação, um fenômeno cultural?

O lobo-cinzento: ser humano influenciou evolução

O caramelo, como qualquer cachorro (Canis lupus familiaris), descende do lobo euroasiático (Canis lupus lupus). Mas não há lobo-caramelo. Existe lobo-cinzento e, a despeito do nome, ele tem várias cores. Porém, não tanto quanto o cão.

Nenhuma outra espécie de mamífero tem tamanha diversidade de cores. A cor da pelagem é resultado da interação de genes e suas variações ocorrida ao longo de milhares de anos.

O cachorro foi o primeiro animal domesticado pelo ser humano, há pelo menos 20 mil anos. Durante e após a domesticação mutações surgiram nos cães e afetaram a sua coloração. Algumas são naturais, outras resultado da intensa seleção feita pelo ser humano.

Qual é a cor do sucesso?

O geneticista Eduardo Eizirik, professor titular da PUC do Rio Grande do Sul e um dos maiores especialistas do mundo em genômica de animais, explica que são conhecidos oito genes ligados à pigmentação dos cães. A combinação de variações nesses oito genes influencia grande parte das cores.

Mas não é tão simples. Há ao menos outros quatro genes que afetam a cor, cuja existência é deduzida a partir de seus efeitos. Mas esses genes propriamente ditos não foram identificados.

E a saga do caramelo não para aí. Eizirik observa que, possivelmente, existem outros genes que afetam a pigmentação, com efeitos mais sutis, e que ainda não foram descobertos.

As pistas mais diretas vêm de estudos de caramelos estrangeiros. Eizirik diz que o tom caramelo no Brasil parece ser a mesma coloração dos cães que possuem os fenótipos (aparência) chamados de fulvo (do inglês fawn, que alude ao castanho-claro) e amarelo-recessivo.

O fulvo se deve a uma mutação dominante no gene ASIP. O amarelo-recessivo, como indica o nome, é resultado de uma mutação recessiva, no gene MC1R. Ou seja, duas mutações diferentes, em genes distintos e com atuações opostas, deixam a coloração do cão amarelada, tom que genericamente chamamos de caramelo.

— É possível que ambas as mutações ocorram no Brasil. No caso do fulvo, dominante, basta um alelo (variação) vindo de um dos pais para que o cão tenha a cor. Já no amarelo-recessivo é preciso herdar a mutação de ambos os pais. Mas a cor gerada pelas duas mutações é bem parecida — explica Eizirik.

Os genes ASIP e MC1R atuam de forma antagônica. O ASIP estimula a cor clara e o MC1R estimula a cor escura. Mutações que aumentam a atuação do ASIP geram amarelo dominante, e aquelas que reduzem (ou eliminam) a sua ação geram melanismo (escurecimento) recessivo.

O mais feio do mundo: pequinês foi o vencedor de concurso

Há inventários de cor em raças de cães, mas elas são artificiais, têm padrões e cruzamentos controlados. Por isso, não dá para usá-las para saber quais cores são mais comuns nos SRDs.

— De fato, a cor caramelo é comum nos vira-latas. Mas há também muitos cães de cores escuras, ou com dorso escuro e ventre claro — diz Eirik.

Fazer a contagem de animais das diferentes cores responderia à questão numérica. Mas para descobrir a origem da cor caramelo no Brasil seria preciso analisar as mutações nos genes ASIP e MC1R.

O geneticista frisa que, caso seja de fato a cor mais comum nos SRDs brasileiros, uma hipótese plausível é que uma ou ambas as mutações que deixam a cor amarela ocorram muito no Brasil.

E se a mutação no ASIP, que é dominante, for bem comum, levaria a uma frequência ainda mais alta de caramelos. Pois o animal precisa de só uma cópia, herdada de um dos pais, para ter a cor.

Amor dos brasileiros

Mas também existe a possibilidade que no Brasil haja outras mutações desconhecidas associadas à cor. E pode ser que não seja nada disso e os chamados pretinhos-básicos, tão comuns nas ruas e nos abrigos, sejam os mais numerosos.

— Talvez o amor pelos caramelos faça com que se preste mais atenção neles e crie a sensação de que são mais frequentes do que seus irmãos mais escuros e malhados. Todos, não importa a cor, são maravilhosos, adoráveis — diz a veterinária Renata Bacila, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Ela acrescenta que não se sabe o quanto as pessoas fizeram os caramelos se tornarem mais comuns. Nos cães, é elevada a herdabilidade, o quanto da herança genética dos pais se manifesta na aparência da prole.

Mesmo envolto em mistério, o caramelo enfrenta nas redes sociais a concorrência do fiapo-de-manga, também conhecido como caroço-de-manga-chupado, que conquista legiões de seguidores. Mas como surgiu o visual arrepiado do multicolorido fiapo já é outra história.

Fonte: O Globo 



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