OPINIÃO: a dor de perder um animal querido é tão intensa e profunda quanto perder um amigo ou familiar. Cada animal é único e insubstituível e deixa sua marca em todos nós. Que hoje seja um dia de reflexão, carinho e corações aquecidos e não de tristeza. A saudade e as boas lembranças são eternas....
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Para muitos tutores, os animais de estimação são como membros da família que precisam de amor, carinho e cuidados, tornando-se inevitável o vínculo emocional. E como o tempo de vida médio é mais curto do que o dos humanos, muitos precisam se deparar com o fim da trajetória do seu companheiro.
Foi pensando em proporcionar um momento de despedida para amenizar a dor dos donos de pets que surgiram os cemitérios de animais no centro-oeste paulista. Em entrevista para o g1, o gerente comercial do Memorial de Animais de Agudos (SP) conta que a ideia surgiu em 2014.
“A ideia partiu do proprietário Alexandre Martins Perpétuo, na necessidade de dar um destino digno ao próprio pet que morreu. Na região, não tinha a opção de sepultar ou mesmo cremar o animalzinho. A partir daí, fez a pesquisa e montou o Memorial em 2014”, relembra Flávio Augusto Colognesi.
A escolha pelo sepultamento animal é, inclusive, ecológica. Isso porque, de acordo com Flávio, quando o pet morria na região do município, era encaminhado para o descarte, incinerado junto ao lixo hospitalar ou levado ao lixão.
Porém, a decomposição natural feita nos lixões libera necrochorume, que causa dano ao solo e aos lençóis freáticos em até 300 metros abaixo do local em que foi enterrado. Por isso, o sepultamento do Memorial é feito em urnas plásticas que não apodrecem.
“Quando um pet falece na região, ele é encaminhado para o descarte e isso para a maioria dos tutores é considerado incômodo, porque o pet é como membro da família e ele ser simplesmente descartado não encerra o luto de uma forma confortável”, conta.
Entre os serviços que o Memorial oferece estão o sepultamento ou a cremação, individual ou coletivo. Já o velório é opcional, mas está incluso nos planos individuais. Além disso, os tutores de pets de pequeno e médio porte podem solicitar o transporte pelo telefone de atendimento.
Desde a inauguração, o local já atendeu mais de 2 mil sepultamentos e cerca de 2,8 mil cremações. Inclusive, todos os dias realizam pelo menos um dos serviços disponíveis. Nesta terça-feira (2), Dia de Finados, a expectativa é de receberem mais de 100 visitas no Memorial.
“O dia 2 de novembro é uma data especial para os familiares dos animaizinhos que estão no Memorial. Porém, na pandemia, o número de visitação foi reduzido a 68 famílias. Este ano esperamos mais de 100 visitas”, relata.
Outra opção é o Cemitério Animal de Botucatu (SP). O local está ativo há mais de 20 anos. De acordo com o proprietário Clóvis Bettus, de 72 anos, o primeiro sepultamento ocorreu em 3 de agosto de 2001 e foi de seu próprio animal.
Em entrevista para o g1, Clóvis diz que a ideia surgiu quando perdeu o King, seu bichinho de estimação da raça Crocker, em 1992. A sobrinha, que morava em Londres na época, já havia visto cemitérios para animais e sugeriu que o tio estudasse a possibilidade. Nove anos depois, ele criou o cemitério.
“A dor bateu no coração quando o King morreu. Depois disso, achei que ele deveria ter um lugar digno para ser sepultado. Demorei 9 anos para conseguir concretizar a ideia, que foi dada pela minha sobrinha que estudava em Londres”, disse.
Desde agosto deste ano, último mês que realizou a contagem, eram mais de 1.608 animais de pequeno e médio porte sepultados, vindos de toda a região. Entre os serviços que oferece, inclui sepultamento, transporte sem taxa para o município, velório e as chamadas “gavetas rotativas”, onde armazenam a ossada do bichinho.
Na pandemia, Clóvis lembra que os sepultamentos não diminuíram, porém, a visitação sim. Neste feriado de Finados, o proprietário espera que o movimento seja maior, se comparado ao ano passado. “Temos expectativa de atender de 40 a 60 famílias”, diz.
O último adeus dos tutores
Despedir-se do animal de estimação é tão doloroso como qualquer outro membro da família. Por isso, o cemitério para animais se torna um local especial para o último adeus ao companheiro fiel.
Vânia Maria Bilches Medinas, moradora de Bauru (SP) e consultora comercial de 58 anos, foi tutora do cachorro Sabão, que morreu em fevereiro deste ano por falência múltipla nos órgãos devido à idade já avançada.
Em entrevista para o g1, Vânia conta que, por cultivar um amor desde o momento em que o bichinho foi adotado, sentiu necessidade de sepultá-lo em um local digno. Por isso, assim que o pet morreu, ela o encaminhou para o Memorial de Animais em Agudos (SP).
“Quando ele veio a falecer agradeci muito ao Memorial porque pude encaminhá-lo para lá. Se não tivesse esse local para eu visitar seria muito difícil para mim. Graças ao Memorial a dor foi mais amena, me senti abraçada. As pessoas acham que por ser um cão você não vai sentir tanta falta, mas não é assim”, relembra.
Por 14 anos, Vânia cuidou de seu pet que foi resgatado pelo filho Yussef Pannous Tanche Júnior, de 35 anos, na escola militar de Pirituba (SP). Segundo a tutora, Sabão chegou ao quartel em estado deplorável.
“O meu filho tratou do meu cachorrinho na época, dando comida, aplicando injeção", relata.
Sabão era um cachorro de raça misturada com Akita Inu, acostumados com frio intenso. Por conta das altas temperaturas provenientes do centro-oeste paulista, o cãozinho desenvolveu um glaucoma em ambos os olhos, que durou 6 anos até a atrofia do olho esquerdo.
Por isso, Vânia diz que não mediu esforços e cuidou de seu pet para que a situação não piorasse. Entre colírios e remédios, a tutora optou, inclusive, por se mudar para uma casa adaptada para cães cegos e com um quintal apropriado para animais de grande porte.
“Sabão foi mais importante do que muitos planos que eu tinha para minha vida. Fiz tudo por ele, principalmente por ele ser de porte grande e de uma raça que demanda muitos cuidados. Inclusive, me mudei para uma casa própria e adaptada para animais cegos, com um grande quintal”, diz.
Em janeiro deste ano, a tutora já sentia que “o tempo não corria mais a favor de Sabão”. Desde então, Vânia vive um luto diário. O que a conforta é saber que, a cada 15 dias, consegue visitar o pet no Memorial. Inclusive, a visita mais recente foi na última quinta-feira (28).
O amor pelo Sabão, descrito por ela como “além dessa vida”, proporcionou que Vânia escolhesse um estilo de vida diferente do que estava acostumada. Assim, hoje, a tutora é vegana.
“Só me separei do Sabão quando a terra foi jogada por cima no sepultamento. Por conta desse amor que cultivei, me orgulho em dizer que hoje sou vegana. Como eu poderia amar tanto um e comer outros?”, conta.
Fonte: G1
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