OPINIÃO: parabéns ao CAPA! Mais um exemplo de como a ação humana é destruidora para a natureza e os animais. Que bom que essa doce capivarinha se viu livre desse incômodo.
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Um filhote de capivara foi fotografado com uma sacola de plástico presa no pescoço no sábado (16) na ciclovia Rio Pinheiros, localizada no Parque Bruno Covas, Zona Oeste da capital paulista. O animal estava na companhia de outros filhotes e de capivaras adultas e não demonstrou desconforto com a peça, que provavelmente ficou presa durante um mergulho no rio.
Apesar da imagem triste causada pela poluição do local, o objeto não oferece risco para a pequena capivara, de acordo com Mariana Aidar, uma das responsáveis pelo Centro de Apoio e Proteção Animal (Capa), entidade apoiada pela Farah Service, gestora da ciclovia, do parque Bruno Covas e do consórcio Novo Rio Pinheiros. O Capas cuida dos animais do entorno, muito frequentado pelas simpáticas capivaras.
"Eu sei que dá aflição de ver esse objeto no corpo dela, mas não precisamos ficar preocupados. A primeira coisa que prestamos atenção quando vimos um objeto assim é se está ferindo ou cortando e não é o caso dela", afirma.
Aidar disse que ela e sua equipe já tinham ciência do caso quando foram procurados pelo g1. De acordo com ela, o animal e seu grupo estão sendo monitorados desde a quinta-feira (14).
A equipe do Capa está realizando o que chamam de "condicionamento operante" do animal. Primeiro, são oferecidos alimentos para a capivara e seu grupo no local onde eles estão. Depois, os alimentos começam a ser oferecidos na mão da equipe, que em seguida captura o animal para conseguir remover o objeto.
"Muitas vezes, quando a gente está condicionando o animal para retirar o objeto, ele acaba saindo sozinho, e a gente nem precisa capturar. Não é simples lidar com esse animais na beira do rio, porque quando a gente tenta pegá-los, eles pulam para dentro do rio. Então nossa estratégia é condicioná-los: vamos alimentando no local onde ele vive para ele ir se acostumando a comer e depois começamos a fornecer o alimento na nossa mão. Quando a gente vê que ele tem confiança na gente é quando pegamos o material de captura e resgatamos", conta.
De acordo com Aidar, todo o processo pode levar vários dias. De acordo com a especialista, o que as pessoas podem fazer para contribuir, além de cobrar o poder público, é não jogar lixo nesses locais.
"Não dá para fazer de uma vez. Se tentarmos pegar a capivara à força, ela vai para o rio e nunca mais a gente consegue chegar perto. Animais de vida livre não são fáceis de lidar, é toda uma dificuldade. Nesses dois anos de trabalho, aprendemos as melhores técnicas para ajudar. O que as pessoas podem fazer é não jogar lixo fora do lugar."
Em junho de 2019, o então governador João Doria (PSDB) prometeu despoluir o Rio Pinheiros até dezembro de 2022 e transformar o local em um "Puerto Madero" - um dos bairros mais populares de Buenos Aires, em que há um porto às margens do Rio da Prata. O local, que é repleto de bares e restaurantes, tornou-se um ponto turístico na capital argentina.
Em nota, o governo estadual afirmou que o programa Novo Rio Pinheiros já conectou 533 mil ligações à rede de esgoto e beneficiou 1,6 milhão de pessoas. Também removeu 62 mil toneladas de lixo do Pinheiros.
Desde abril de 2020, o Projeto Capa já resgatou 88 animais, entre cães, gatos e dez capivaras, que foram examinados por diversos motivos de saúde.
'Animais não deveriam estar lá', diz pesquisador
Apesar de as capivaras serem responsáveis pelos melhores sorrisos e selfies dos ciclistas às margens do Rio Pinheiros, o local não é adequado para elas, de acordo com o dr. Derek Rosenfield, pesquisador da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Universidade de São Paulo (USP).
"Esses animais não deveriam estar nesse ponto de Pinheiros. Esse lugar não é adequado porque as capivaras são semiaquáticas e essa água não é água, é muito poluída", afirma o pesquisador.
A poluição da água é um dos maiores riscos para a vida desses animais, de acordo com o pesquisador.
"Não dá para perceber de fora, mas esses animais podem ter câncer por causa dessa água, que é importante para eles em termos de reprodução, controle de temperatura. Eles deveriam ser realocados para onde tem água limpa e não tem trânsito, porque ainda podem ser maltratados por pessoas e cachorros. As capivaras são muito resistentes, mas não é um local onde deveriam estar", afirma.
Rosenfield, que é americano, estuda as capivaras que vivem na raia olímpica da USP. De acordo com o pesquisador, o local lhe proporcionou observar esses simpáticos animais durante 24 horas por dia, o que ele chama de "presente de Deus".
Ele alerta que as pessoas que frequentam esse locais onde há capivaras não devem se aproximar e muito menos tocar nos animais.
"As capivaras são consideradas hospedeiras amplificadas de doenças como a febre maculosa, transmitida por carrapatos. Isso não quer dizer que onde tem capivara, tem doença, mas onde tem capivara tem carrapato. E a bactéria pode chegar a uma concentração tão alta nos carrapatos que pode acontecer transmissão acidental para o ser humano. Não é comum, mas pode acontecer, e a doença é fatal", afirma.
Rosenfield afirma, porém, que a pequena capivara envolta na sacola vai ficar bem.
"O plástico é flexível, só de a capivara crescer, o plástico vai se desfazer. Claro que pode acontecer algo absurdo, como ela se enganchar, e é traumático olhar, mas não é metal nem borracha, é simples, ela vai sair dessa, e a equipe do Capa já está cuidando dela."
Fonte: G1
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