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Após ter as duas patas dianteiras fraturadas e passar mais de dois meses sem receber tratamento ou cirurgia, um gato teve os ossos consolidados da maneira como foram quebrados, e se adaptou à nova condição, em Santos, no litoral de São Paulo. Em entrevista ao g1, um veterinário ortopedista e cirurgião explicou que, para normalizar as patas, seria necessário quebrar novamente os ossos do animal. Porém, ele apresentou uma boa adaptação às fraturas.
O gato 'Edu' foi encontrado na Zoonose de São Vicente, também no litoral de São Paulo, pela Organização Não Governamental Viva Bicho Santos. De acordo com a assessora de comunicação da ONG, Leila Abreu, o animal estava em uma gaiola, e ao retirá-lo, a equipe percebeu que ele possuía fraturas nas patas da frente, o que fazia com que ele andasse de maneira diferente. Quando ele chegou ao equipamento, já estava com as patas quebradas.
O gato, que deveria ter as patas lineares e mais retas, pisa com parte da própria perna, que foi quebrada em formato de 'L'. Uma das patas estava ainda mais ferida que a outra, por isso, em alguns momentos, ele anda com ela 'pendurada', como é possível ver em imagens obtidas pelo g1 (veja abaixo).
Após ser levado pela ONG, no primeiro dia, Edu demonstrou medo e carinho, sem apresentar qualquer sinal de agressividade. A partir do segundo dia, ele começou a passar por atendimento médico, sendo diagnosticado com diversos vermes.
Ele também passou pelo veterinário Ricardo Travaglia, que é cirurgião e ortopedista. Apesar das fraturas, o especialista analisou que o gato não sentia dores, e que, devido ao longo período que passou com as patas quebradas, sem receber atendimento, os ossos se consolidaram da maneira como estavam.
Travaglia explica que a consolidação dos ossos é uma situação que pode acontecer, principalmente em animais. “Toda vez que a gente tem uma fratura, o organismo tenta consolidar esse osso na posição que estiver. Acabou consolidando de uma maneira não anatômica, ou seja, diferente do estado original, mas, incrivelmente, o animal se adaptou muito bem a essa deformidade”, esclarece.
Além da consolidação dos ossos, o que impressionou a equipe da ONG e o ortopedista foi a maneira como, sozinho, Edu superou as limitações e a dor das fraturas, e se adaptou, descobrindo uma nova forma de se locomover. Mesmo com impedimentos para dar grandes saltos, como um gato em seu estado normal pode dar, ele conseguiu adaptar suas ações ao novo estado, conseguindo viver "normalmente", como um gato doméstico.
“Foi inusitado, sim. Quebrar as duas patas ao mesmo tempo não é uma coisa muito corriqueira, mas a forma como ele conseguiu se adaptar a isso, realmente, precisamos bater palmas para o Edu, porque ele praticamente ignorou essa condição e se recuperou bem”, relata o ortopedista. Ele acredita que o felino não tenha se machucado sozinho, como em um salto muito grande, mas sim, que alguém o feriu, mesmo que sem querer, como abrindo uma porta nas patas do gato, ou deixando algum objeto cair, como uma mesa ou cadeira.
Apesar da boa adaptação, o animal deveria passar por uma cirurgia para corrigir o problema. No entanto, após dois meses na ONG, e correndo o risco de ser discriminado por sua condição física, Edu encantou uma tutora e foi adotado. Tendo se apaixonado pelo pet mesmo com a deficiência, ela e o ortopedista entraram em um impasse para decidir o que era melhor para o animal, realizar uma cirurgia ou deixá-lo como estava.
Apesar de a cirurgia trazer os membros à normalidade, o processo seria doloroso e delicado, já que seria necessário quebrar novamente as patas do animal. "Para voltar ao original, teria que quebrar o osso colado e colocar na posição normal. Mas, o corpo do animal já passou por mudanças, e ele já reaprendeu a viver desse jeito. Então, é um impasse se vão operar ou não. Apesar da deformidade, ele tem vida normal. Tem algumas limitações, para dar grandes saltos, por exemplo, mas ele está se adaptando bem. Seria mais uma questão quase estética", diz Leila.
"A cirurgia é uma arte linda, mas ela machuca para depois curar. Então, fica esse impasse, se seria melhor para o Edu expor ele a todo esse processo doloroso de novo, além do fato de que ele teria que se adaptar de novo a uma nova forma de viver. Ele está bem, não tem desconforto ou manifestações de dor. Se fosse um gato que fosse viver mais solto, seria mais prejudicado, mas em uma vida domiciliar, ele pode se manter assim", conta a funcionária da ONG.
A nova tutora optou por não realizar a cirurgia em Edu, já que, da maneira como ele vive, não sente dores ou desconforto. Porém, o especialista alerta que, no futuro, essa condição física pode gerar um comprometimento em outras partes da estrutura do corpo do gato. Por isso, o felino segue sendo acompanhado regularmente pelo veterinário e pela equipe da Viva Bicho.
Leila conta que Edu foi levado à ONG por meio de uma parceria com a Zoonose, em que a organização resgata os animais para dar a eles uma nova oportunidade de encontrarem um lar. Para ela, Edu é um dos diversos animais que diariamente sofrem com situações de maus-tratos, abandono ou negligência, e que conseguem seguir em frente e superar seus traumas.
“Os animais se adaptam com muita facilidade às limitações deles, por instinto. Além do que, eles não têm um emocional para lidar, como o ser humano. Aconteceu, aconteceu. E ele busca se adaptar. Ele vive o presente. E o Edu, agora, está vivendo um lindo presente, sendo cuidado com amor”, conclui.
Fonte: G1
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