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23 agosto 2021

Abrigos lotados: abandono de animais cresce na pandemia


OPINIÃO:
nos momentos mais críticos e difíceis conhecemos o verdadeiro caráter das pessoas. Certamente você já ouviu ou leu em algum lugar uma variação desse ditado popular. Agora, você pode comprovar a veracidade dele na matéria abaixo. 
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O cachorro Ruivo, de mais ou menos 6 anos, chegou a ficar desnutrido, no ano passado, apesar do esforço de alguns vizinhos, que tentavam ajudar com comida. Encontrado abandonado em um apartamento, pouco se sabe sobre o porquê ele foi deixado. Felizmente, o animal já ganhou um novo lar.

Foi Ithamires Alves, 33, quem acolheu o cãozinho: “Durante a visita ao abrigo, quase voltei sem cachorro, não consegui me identificar com nenhum. De repente, um dos voluntários chegou com o Ruivo, disse que ele já havia sido ‘devolvido’ tantas vezes que decidiram não colocá-lo mais para adoção. Era o companheiro que eu precisava”, conta. Quatro dias depois, a gerente acabou adotando também Beterraba, de 3 anos, para fazer companhia para Ruivo. “Hoje, se eu e meus filhos vamos viajar e os cachorros não ‘cabem’, decidimos não ir. Somos realmente uma família.”

Mas nem todos têm a mesma sorte. A cachorrinha Milagre foi amarrada com as quatro patas presas e jogada em uma cisterna. Kitana apanhou muito. A cadela Ratinha e Bibi e os sete filhotes também têm histórias de maus-tratos e abandono. Esses animais, incluindo Ruivo e Beterraba, foram resgatados pelo Lar dos Anjos, que foi criado durante a pandemia. Quando chegaram lá, estavam acometidos por vários problemas, como lesões sérias e queimaduras.

Roberta Lehane é diretora do abrigo e afirma que são várias as justificativas que as pessoas arrumam para abandonar os bichinhos. “O animal é sempre descarte”, diz. São cerca de 50 mensagens por dia pedindo para deixar animais no local, que, no momento, está lotado e não tem como aceitar novos cães, mas ajuda os que precisam.

Não é simples. Quando o pet chega ao abrigo, precisa ser vacinado, castrado e adaptado ao ambiente. Por esse motivo, é difícil atender a todas as chamadas. O trauma do abandono também precisa ser tratado. “Alguns, simplesmente, falam que vão deixar o cachorro no abrigo. Depois, somem e não conseguimos mais contato. Não deixam nem ração, tampouco se importam se o animal está bem.”

Adoção responsável

Para Roberta, muitos buscam um companheiro no impulso. Por isso, considerar a logística do cuidado é importante. “Se o dono do lugar onde a pessoa mora não aceita, se a família tem resistência, se não tem carro para transportar o animal em caso de emergência… Isso tudo precisa ser pensado”, alerta.

No Lar dos Anjos, de 50 animais acolhidos por algum adotante, 20 são devolvidos, segundo a diretora. A maioria, na mesma semana. Quem opta por ficar com um filhote, em vez de um cachorro adulto, costuma encontrar dificuldade na criação, porque os pequenos têm muita energia. É preciso paciência na adaptação e enxergar o animal com respeito.

Cecília Prado, integrante da ONG Clube do Gato, observa: “A procura por adoção cresceu porque muitas pessoas quiseram amenizar o sentimento de solidão durante o isolamento. Também consideraram a fase propícia para se adaptar ao novo pet, uma vez que passariam mais tempo em casa”. Na organização, o número de interessados em adotar um gato, entre março de 2020 e março de 2021, cresceu 75% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Por outro lado, Cecília cita que a instabilidade financeira, sentida por vários durante a pandemia, levou muita gente a deixar os animais. Outro complicador comum é a mudança física de residência para lugares que não aceitam animais ou até para outros estados. “Ainda assim, a pessoa deve se comprometer com essa vida e tentar inseri-la em possíveis mudanças”, recomenda.

A diretora-geral do Pro-Anima, Mara Moscoso, confirma um aumento no número de abandonos e avalia que o cenário pandêmico fez muitas pessoas desistirem dos próprios animais. “Muitos se desfizeram de animais que tinham há 15 anos, por exemplo.” Segundo ela, a mudança no cotidiano para muitos pets teria levado a uma alteração no comportamento deles — situação que os tutores acabam não querendo enfrentar.

Mas ela reitera a necessidade de se responsabilizar. “Abandono é crime”, afirma. Pensando nisso, a associação promove palestras nas redes sociais, buscando educar os tutores sobre a melhor forma de cuidar dos pets. “Orientamos aqueles que nos procuram inseguros, querendo se desfazer do animal. Aconselhamos a tentar arrumar alguém próximo que possa assumir”, explica.

Sempre juntos

Os gatinhos Chicó e Alicia acompanharam a tutora Talita Fernandes, 34 anos, em uma transformação de vida, quando ela decidiu se mudar em plena pandemia. Chicó foi resgatado com a mãe, que o pariu num bueiro da Asa Norte. Alicia era alimentada por algumas pessoas, embaixo de um prédio, em Taguatinga. “Minha vida passou a ser preenchida de mais amor e afeto desde que eles chegaram em casa, em 2019. Decidir me mudar para a China, no meio da pandemia, foi um motivo de apreensão em relação a eles”, conta. Talita relata medo de fazer os gatos viajarem para tão longe numa caixa, no porão do avião.

Depois de pesquisas e conversas com amigos e família, a decisão estava tomada. Chicó e Alicia viajaram com empresas especializadas em transporte de animais. Logo se adaptaram ao novo lar, apesar do fuso horário e da diferença climática. “Contei com a generosidade de amigos que, por cinco meses, cuidaram deles e de toda a burocracia para a viagem. Foram idas e vindas de incertezas, mas eles chegaram superseguros e saudáveis na nova casa na China. Junto com eles, veio meu conforto de estar um pouco mais perto da minha casa no Brasil e da minha rotina de carinhos”, resume.

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