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09 agosto 2021

Olimpíadas da natureza: conheça os 'animais-atletas' que são 'medalha de ouro'


OPINIÃO:
a natureza é mais do que perfeita! 
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Quem curtiu as Olimpíadas de Tóquio certamente tem se encantando com a performance de muitos atletas. Eles superam limites com muito treino e dedicação. Mas você sabia que alguns animais conseguem façanhas ainda mais surpreendentes? Na coluna "Histórias Naturais" o biólogo Luciano Lima traz alguns desses "atletas" de elite da natureza.

Foi perto do Natal de 2013, um final de tarde de domingo. Eu caminhava pela Avenida Paulista, em São Paulo, após sair de uma feira de rua onde havia garimpado alguns vinis antigos. Seguia rumo ao metrô desviando da pequena multidão movida pelo ímpeto das compras de Natal. Eis que, de repente, meu "sensor passarinheiro", um super poder compartilhado pelos observadores de aves, registrou ao longe uma silhueta voando rápida no céu, era um falcão-peregrino!!!

Já prestes a sumir da vista, mudou abruptamente de direção, fechou as asas e desceu rumo onde eu estava. Enquanto os prédios enormes apenas arranhavam o céu da Paulista, o falcão-peregrino cortava-o em carne viva. Como um míssil certeiro, ele logo atingiu seu alvo, um infeliz pombo que explodiu em uma nuvem de penas. Tão rápido quanto surgiu, o falcão desapareceu carregando seu troféu. Quando me lembrei que não estava sentado em uma arquibancada, mas no coração de uma das cidades mais populosas do mundo, olhei ao redor e atônito me dei conta que mais ninguém havia presenciado aquela performance ao vivo de um dos grandes atletas da natureza, o animal mais rápido do planeta!


O falcão-peregrino é capaz de atingir 389 km/h, mas além de detentor do recorde mundial de velocidade entre os seres vivos, nas Olimpíadas da natureza ele poderia também competir em outras modalidades. Migrando anualmente cerca de 30.000 km, ida e volta, entre a América do Norte e a América do Sul, a espécie certamente se destacaria no atletismo caso existisse a modalidade "Maratona Aérea". Outro esporte olímpico praticado pelo falcão-peregrino é o Tiro ao Prato, geralmente nas modalidades "tiro ao pombo" ou "tiro ao pato". A principal estratégia de caça da espécie consiste em abater suas presas em pleno ar, após atingi-las como se fosse uma bala de pistola viva.

Já em outra possível modalidade do atletismo aéreo, o "voo horizontal", o detentor do recorde seria um mamífero, que também poderia competir pelo Brasil, já que carrega nosso país no nome. Tadarida brasiliensis é um pequeno morcego que pesa cerca de 12 gramas. Embora possa ser encontrado desde os EUA até a Argentina, a referência ao Brasil no seu nome científico deve-se ao fato que o primeiro representante da espécie foi obtido por aqui e descrito em 1824. Quase duzentos anos depois, em 2016, pesquisadores descobriram que esse morceguinho pode atingir 160 km/h em voo horizontal, ou seja, batendo as asas, e não em queda livre como o falcão-peregrino.

Com os pés, ou melhor as patas, no chão, o recordista mundial em velocidade é o famoso guepardo, felino africano que pode chegar aos 120 km/h. Capaz de atingir cerca de 60 km/h, nossa onça-pintada não ganharia do guepardo, mas desbancaria facilmente o homem mais rápido do mundo, o jamaicano Usain Bolt, que consegue atingir meros 47 km/h. Pois é, se o "bicho" for a onça-pintada, e você não for capaz de correr mais rápido que o Bolt, não precisa escolher entre as duas opções, pode "ficar" com "se correr" o bicho certamente come.

Na natação, a disputa também resultaria em vexame para nós seres humanos. Mesmo deixando a competição mais justa, deixando de fora os peixes, que são os grandes velocistas aquáticos, e tendo como adversário um outro mamífero. Após a largada, o golfinho-comum, uma espécie frequente nos mares brasileiros e capaz de nadar a 60 km/h, conseguiria ir e voltar mais de três vezes na piscina antes que César Cielo, o brasileiro mais rápido da história dentro d'água, nadando a 8 km/h conseguisse tocar pela primeira vez na borda oposta a largada.


Após a medalha da jovem Rayssa Leal, o skate virou o novo esporte olímpico favorito do Brasil. Não sem motivo, além da medalha de prata, a skatista de 13 anos de idade conquistou o recorde de medalhista mais jovem da história dos jogos olímpicos. Essa surpreendente façanha fez viralizar uma pergunta nas redes sociais "o que você estava fazendo aos 13 anos?". Essa foi a idade exata em que eu comecei observar aves, e inspirado em uma delas, eu faço outra pergunta nesse mesmo estilo: o que você estava fazendo aos três meses de vida?

Se você fosse um maçarico-de-bico-virado, estaria migrando do local onde nasceu, no Alaska, até o sul do Chile, passando no caminho pelo Brasil. Em linha reta, a distância por si só já impressiona, cerca de 13 mil km, mas calma... Tá sentado? Com auxílio de rastreadores fixados nas aves, ornitólogos demonstraram que na viagem rumo ao Sul a espécie é capaz de voar sem parar durante cinco dias, cobrindo 6.500 km!

Cerca de oito meses depois, terminada as "férias" na América do Sul, é hora de migrar de volta para o Alaska. Rumo ao norte, a façanha aérea da espécie se torna ainda mais inacreditável, 10.000 km sem parar em 7 dias. Para se ter uma ideia, a autonomia média de um dos aviões comerciais mais vendidos no mundo, o Airbus 320, é de cerca de 6.000 km.

Seja na terra, na água ou no ar, se você gosta de Olimpíadas, passe a observar com mais atenção a natureza ao seu redor. Fazendo isso, você não precisará esperar quatro anos para poder assistir performances dos mais incríveis atletas de elite.

* Luciano Lima é biólogo, especialista em aves e compõe a equipe do Terra da Gente.

Fonte: G1 

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