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05 novembro 2021

Jacarés no Rio: parece inusitado, mas se tornou um perigo para os animais


OPINIÃO:
não se deixem iludir pela verticalidade da capital carioca, o RJ é natural e historicamente o habitat desses animais, que cada dia mais é destruído para a construção de edifícios. Não adianta investir nas belezas naturais para atrair turistas, é preciso preservar os ecossistemas e as espécies que aqui vivem! 
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Com frequência, as redes sociais dos moradores do Rio de Janeiro mais parecem canais de TV a cabo, com aqueles programas que se passam em partes da Austrália, dos Estados Unidos. Isso porque tem sido cada vez mais comum vermos jacarés em nossas redes. Contudo, o que, muitas vezes, rende likes e compartilhamentos nem sempre é uma situação favorável.

Na última semana, viralizou um vídeo no qual um Jacaré-de-papo-amarelo, predominante no Rio de Janeiro, ataca outro da mesma espécie. As fortes imagens foram registradas no bairro do Recreio e comentadas por Ricardo Freitas, responsável pelo Instituto Jacaré, um especialista nos estudos sobre esses animais.

“Os jacarés são animais territorialistas, principalmente em época de reprodução. Quando as pessoas ficam jogando comida para eles, mesmo que seja na melhor das intenções, eles associam determinados lugares a alimentos e se juntam lá. Com isso, começam a brigar entre eles e vemos cenas impactantes como as desse vídeo”, destaca Ricardo Freitas.

Nesta semana, foi publicada uma matéria mostrando que, noCanal das Taxas, a Rua Professor Hermes de Lima, no bairro do Recreio, de onde se vê toda ostentação e sofisticação da região, se encontra uma área que ficou conhecida por moradores como o “Pantanal Carioca”, por conta da grande quantidade de jacarés-de-papo-amarelo que vivem no trecho.

Ricardo aponta que a grande presença de animais em regiões como o Canal das Taxas ou a comunidade do Terreirão, onde o vídeo mostrado anteriormente foi feito, resulta em uma série de problemas para os animais, como as mortes por essas brigas territoriais, a deformação de alguns, seja por conta das lutas ou pela poluição, doenças (pois são águas extremamente poluídas), entre outros, como a presença no espaço urbano e a caça ilegal.


“E não é só isso. Se as coisas continuarem assim, em 100, 150 anos, esses animais estarão extintos no Rio de Janeiro. O número de machos e cada vez menor, por vários motivos, e muitos filhotes têm nascido deformados, muito por questões de saúde, influenciados pelas águas sujas onde estão vivendo”, afirma Ricardo, do Instituto Jacaré.

Ricardo conta, ainda, que vem tentando conversar com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente para apresentar um plano de ação que ajudaria a proteger os animais e seus habitats, que são as lagoas do Rio de Janeiro, mas não consegue contato.

Ao DIÁRIO DO RIO, a Secretaria informou que “está aberta a apoios institucionais, mas ressalta que até o momento não recebeu qualquer projeto do Instituto Jacaré para avaliação. A pasta segue aberta a propostas, desde que o requerente siga o rito legal, de apresentação do trabalho no Protocolo da Secretaria (12° andar do Centro Administrativo São Sebastião)”.

O Instituto Jacaré diz que propõe, inclusive, a criação de um espaço de preservação e conscientização para proteger esses animais, no Rio de Janeiro. A ideia é estudar, mapear e proteger os bichos em uma parte específica da cidade, em ambiente propício à vida deles. Uma espécie de Projeto Tamar, hoje presente em várias cidades do Brasil, mas voltado aos jacarés.

Em meio a essa situação, os animais seguem aparecendo em locais e momentos, no mínimo, estranhos. Recentemente, um jacaré chegou a ser usado como arma em uma briga, na Praia da Macumba, Zona Oeste do Rio.

Na Barra da Tijuca, um jacaré bem maior deu trabalho ao Corpo de Bombeiros no inicio do mês de outubro. Esse apareceu próximo ao colégio Santo Agostinho, em uma área bastante movimentada.

Comerciantes das praias da Barra e do Recreio frisam que é muito comum os animais aparecerem em seus comércios, sobretudo quando chove.

“Sempre que tem ressaca, eles aparecem por aqui. Os pequenos vêm flutuando na gigoga, os grandes chegam meio do nada“, explica Amaro, que trabalha em um quiosque no Recreio, já próximo à divisa com a Praia da Reserva.

Outro ponto recorrente nesta história é a caça. Em 2019, uma ação da Patrulha Ambiental, passou a tentar conter a caça e pesca predatórias de jacarés e também de capivaras. Os crimes acontecem no complexo lagunar de Jacarepaguá e da Barra da Tijuca, que é formado por três lagoas principais: Tijuca, Jacarepaguá e Marapendi, e a de Camorim, situada entre as lagoas da Tijuca e de Jacarepaguá.

Fora da cidade do Rio de Janeiro também acontecem situações do tipo. Em São Gonçalo, na Região Metropolitana, um homem imobilizou um animal grande que apareceu próximo à sua casa. As imagens chamaram muito a atenção por conta do risco que o sujeito correu.

“Normalmente, esse tipo de captura, feita por quem não sabe lidar com esses animais, éperigosa demais para os jacarés e para as pessoas. Alguém pode se ferir gravemente. Isso tem que ser feito por profissionais treinados”, ressalta Ricardo Freitas.

De acordo com especialistas, se os jacarés continuarem sujeitos às condições atuais no Rio de Janeiro, a tendência é de que mais casos aconteçam e que tudo se agrave ainda mais, especialmente para os animais.

“A situação já está fora do controle há muito tempo. Eu estudo esses animais há mais de 20 anos. Sou especialista no tema e venho analisando o comportamento desses animais no Rio de Janeiro e seu impacto no meio ambiente e tem muita coisa errada acontecendo e as instituições responsáveis, como a Secretaria de Meio Ambiente, precisam fazer alguma coisa, ouvir os especialistas, pelo menos”, conta Ricardo Freitas.

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