OPINIÃO: um completo absurdo! Tirar os animais do seu país natal apenas para morrer! Aprisionar os animais para o divertimento humano precisa ser proibido! É um desserviço, é desperdício de dinheiro e banalização do sofrimento animal!
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No dia 11 de novembro de 2021, 18 girafas desembarcavam no Aeroporto Internacional do Galeão. Compradas pelo BioParque do Rio, elas vinham de Joanesburgo, na África do Sul, para — algumas delas — se tornarem a mais nova atração do zoológico.
Entretanto, mais de dois meses se passaram e os bichos ainda não deram as caras por lá: desde que chegaram, estão de quarentena no Portobello Safári (para onde foram transportadas em grandes caixotes içados por caminhões), em Mangaratiba, que fechou uma parceria técnica com o zoo para "pesquisa, conservação e manejo" dos animais. Mas, no dia 14 de dezembro, numa tentativa experimental dos veterinários de tirá-los do galpão fechado e levá-los para o solário, seis delas fugiram. Todas conseguiram ser recuperadas, mas três acabaram morrendo logo em seguida. Ainda não se sabe a causa das mortes.
Nesta quarta-feira, o Ibama aceitou uma denúncia do ambientalista Márcio Augelli, impetrada no último dia 14, de que esses animais estariam confinados em um galpão de pequenas baias com limpeza precária, sem luz do sol e sem local para circularem, o que caracterizaria maus-tratos. Segundo ele, testemunhas com acesso ao local, mas que preferem não se identificar, alegaram que os animais viviam em ambiente insalúbre, com fezes e urina espalhados pelo chão.
"As informações que recebi dão conta de que a limpeza do espaço é precária: o piso virou uma lama composta de urina e fezes. O cheiro de amônia no galpão é forte e o risco de doenças devido à falta de higiene é alto. Os animais não saíram para pegar sol desde que chegaram. Se não tem nada errado, por que esses animais estão escondidos? O inciso II do artigo 3º do decreto federal 24.645 é claro ao dizer que acomodar animais em lugares anti-higiênicos ou que lhes impeçam a respiração, o movimento ou o descanso, ou os privem de ar ou luz é caracterizado como maus-tratos", aponta o ambientalista.
O GLOBO foi até Mangaratiba, nesta quarta-feira, para apurar a denúncia, mas não encontrou sinais de maus-tratos. As 15 girafas, todas com idade entre dois e três anos, eram divididas em cinco baias de 40 metros quadrados: três em cada. As girafas estavam se alimentando, não havia sinal de mau cheiro e, apesar de estarem em ambiente fechado, havia circulação de ar por frestas nas paredes, além de pequenos buracos circulares na parte alta do galpão permitiam a entrada da luz do sol.
O diretor de operações do BioParque, Manoel Browne, acompanhou a visita e disse que, no dia da fuga e consequente morte das girafas, estava-se realizando uma tentativa de adaptá-las ao ambiente do solário, uma vez que todas já estavam vacinadas e sem zoonoses. Mas, após o incidente, a equipe de veterinários resolveu recuar e permanecer com elas mais um tempo na quarentena, em espaço fechado. Ele explica que as estruturas que cercam o solário estão sendo reforçadas para receber as girafas "no momento certo".
"Nosso planejamento era começar a adaptá-las aos poucos no solário, já que elas estavam há mais de um mês na quarentena. Mas como teve esse escape, esse movimento mais selvagem, resolvemos dar um passo atrás. Agora, nossa estimativa é de que elas voltem para o solário até o fim de fevereiro. Depois de passarem mais um período de adaptação por lá, vão para um espaço aberto de cerca de 10 mil metros quadrados. Em seguida, algumas vão para o BioParque e outras permanecerão no safári para, no futuro, serem direcionadas a outros zoológicos do Brasil que já tenham girafas. Mas ainda não conseguimos dar uma estimativa de quando isso ocorrerá", disse Browne. Segundo ele, das18 girafas que chegaram ao Brasil, apenas parte delas irá para o BioParque, enquanto as demais ficarão no Safári ou serão enviadas a outros zoos que tenham ambientes para esses animais.
Causa das mortes
Segundo Ramiro Dias Neto, veterinário do BioParque que fica de forma permanente no local, não foi possível identificar a causa da morte, "mas o que pode se garantir é que não houve choque e nem batida".
"Elas foram resgatadas vivas. Esses animais selvagens, quando se estressam, têm muitas alterações metabólicas. Acredito que a causa tenha sido essa, mas só o laudo da necropsia vai poder confirmar. Eles estão sendo feitos por um laboratório independente e estão na iminência de serem entregues. Em seguida, os enviaremos ao Ibama", afirmou o especialista, que teve a posição corroborada por Bruno Rocha, veterinário do Portobello Safári:
"O que temos percebido é que, desde o ocorrido, elas estão mais mansas e acessíveis. O manejo também está mais fácil e elas brincam e reagem muito bem à presença de humanos. Estão muito bem de saúde".
Biólogo e mestre em zoologia, Igor Morais diz nunca ter visto, em seus 15 anos de carreira, nenhum zoológico brasileiro importar tantos animais, principamente de grande porte. Segundo ele, as importações, geralmente, são de dois a quatro animais. Ele diz ainda que, se fosse num zoológico, o espaço destinado às girafas no safári estaria fora das regras ambientais, que determinam um tamanho mínimo de 900 metros quadrados para circulação. Mas não há uma instrução, uma regulamentação normativa para recintos de quarentena, explica ele.
"Não entendo o motivo da quarentena não estar sendo feita diretamente no solário. Causa estranheza a chegada dessas girafas, até porque elas exigem espaço e têm uma série de peculiaridades no manejo do cativeiro. Nos zoológicos brasileiros, não há programa de manejo para essas espécies, que são de fora. Então, onde está o interesse na conservação? Qual é o propósito de trazer esses animais? Desde 2019, há um projeto de lei tramitando no Congresso que visa a atualizar a legislação dos zoológicos no país. Mas o projeto sofreu alterações e agora permite o comércio de animais dentro dos programas de conservação a nível nacional. Isso ocorreu, curiosamente, no mesmo momento em que houve essa importação", aponta o especialista, ex-integrante da Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil.
Ibama vai apurar
O Inea afirma que, antes da chegada das girafas, realizou vistoria no empreendimento onde estão os animais para averiguar as condições do ambiente que abrigaria as girafas, e que esta constatou que o local estava em boas condições para isso. Também informa que ainda aguarda que o Ibama envie os laudos das necropsias das girafas para serem analisadas: "A partir do resultado das análises, o instituto fará uma vistoria no local e, caso sejam constatadas irregularidades, adotará as medidas cabíveis previstas em lei", conclui o Inea.
Questionado sobre o andamento da denúncia recebida, o Ibama informa que "está ciente da situação e vai apurar eventuais irregularidades cometidas pelo importador, que está sujeito às medidas corretivas e sanções previstas pelo Decreto 6514/2008".
O Ibama diz ainda que a autorização para a importação das 18 girafas foi emitida após avaliações de regularidade e da capacidade do importador de receber os animais no Portobello Safári, bem como em pareceres favoráveis do Inea e do Ministério da Agricultura, órgão responsável pelo cumprimento da legislação sanitária.
Fonte: O Globo
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