OPINIÃO: já falamos sobre esse projeto aqui em outra ocasião e ele não cansa de surpreender. O CAPA realiza um excelente trabalho de conscientização e proteção à fauna.
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Mariana Aidar brinca que a ciclovia do rio Pinheiros é como se fosse o quintal de sua casa. Lá, ela pedala de quatro a cinco dias por semana. Algo na paisagem sempre a incomodava: as capivaras que vivem à beira do rio com objetos presos ao corpo. Foi para ajudar esses animais que ela criou o Projeto Capa.
A ONG nasceu em 2020 depois de Aidar tentar, sem sucesso, chamar a atenção de autoridades e personalidades da mídia para o assunto. Os objetos que se enrolam no corpo das capivaras vão de gravatas a fios de nylon e são todos provenientes do lixo acumulado no rio Pinheiros.
“Como as capivaras passam a maior parte do tempo no rio, às vezes essas sujeiras entram no pescoço delas quando ainda são pequenas e, quando elas crescem, se aquele objeto não é de um material frágil que arrebente, ele fica preso e as machucam, explica Aidar.
Foi quando a Farah Service passou a administrar a ciclovia em São Paulo que a ideia de Aidar de ajudar os animais saiu do papel. Com apenas uma reunião o Projeto Capa ganhou vida com o intuito de salvar as capivaras da ciclovia.
Pega a capivara!
Pegar uma capivara pode ter sido fácil para a onça ‘cancelada’ fotografada no Pantanal pelo estudante João Pedro Salgado, mas para Mariana Aidar foi tarefa muito difícil. Ela, que já tinha tentado cumprir a tarefa sozinha em diversos momentos, nunca teve sucesso. É por isso que atualmente o Projeto Capa conta não só com ela, mas com mais quatro veterinários, um biólogo e quatro auxiliares de campo.
Para manusear esses animais silvestres é necessário ter um cadastro no Departamento de Fauna do Governo de São Paulo, o que, para o projeto, demorou cerca de seis meses.
“É muito difícil tirar o objeto que está machucando as capivaras, porque elas têm o rio como escape, quando você as tenta pegar, elas fogem para o rio. E se você assusta o animal, depois para chegar perto dele é dez mil vezes mais difícil, você não consegue”, explica Aidar.
Para cumprir tal tarefa, o Capa faz uso de uma tática chamada condicionamento operante. Nela, são usados alimentos para ganhar a confiança das capivaras. Mesmo assim, o resgate pode levar de 15 a 20 dias no melhor dos cenários. No pior, pode demorar até três meses.
Mais ações
Outro trabalho exercido pela ONG, além dos resgates, é a coleta de amostras de carrapatos para análise. O médico Marcelo Labruna os examina à procura de febre maculosa. “Até hoje, coletamos carrapatos de todos os grupos de capivaras que vivem ali e nenhum é transmissor da febre maculosa”, conta Aidar.
A importância desse tipo de trabalho está justamente em proteger quem anda na beira do rio Pinheiros para que não sejam contaminados. O rio está em processo de despoluição e a ideia do poder público é que mais pessoas passem a frequentar a área.
Essa relação entre os animais e a população é algo que o Projeto Capa leva em consideração em suas atividades. “Existe espaço para que as pessoas e as capivaras vivam em harmonia, o que precisa é que os humanos saibam respeitar os espaços desses animais”, diz.
Para isso, Aidar lembra da importância de não ocupar os lugares onde os animais vivem e nem tentar chegar perto deles. Apesar de simpáticas, as capivaras podem atacar e machucar gravemente qualquer pessoa.
Pensando em quem frequenta a ciclovia, mas principalmente nos animais, o projeto deseja estruturar um trabalho para esterilização das capivaras para seu controle populacional. Um dos veterinários do Capa é o Derek Rosenfield, especialista em capivaras e javalis e que já fez um trabalho semelhante na Universidade de São Paulo (USP) em 2019.
Não adianta ficar limpando o rio se, na primeira chuva que vem, as sujeiras que as pessoas jogam na rua vão para o rio. Para a gente é muito importante esse trabalho de despoluição porque os animais não vão sofrer tanto. Mas o projeto Capa sempre vai existir para ajudar as capivaras enquanto houver sujeira no rio.
Para ajudar as capivaras e também animais domésticos que são encontrados no parque Bruno Covas, que ocupa parte da margem do rio e também administrado pela Farah Service, o Projeto Capa conta com uma ajuda mensal da administradora, mas também aceita doações.
O dinheiro é importante para o pagamento da equipe e para custear hotéis e ração para os animais domésticos resgatados. “No caso dos animais silvestres, quando conseguimos resgatar para retirada de objeto ele é solto imediatamente, mas caso ele precise de internação, o levamos para o CeMaCAS – Centro de Manejo e Conservação de Animais Silvestres do governo de São Paulo. Lá, eles cuidam e direcionam para soltar na natureza novamente”, fala Aidar.
Foi para ajudar a angariar fundos para o Capa que a podcaster Déia Freitas, do Não Inviabilize, enviou para a casa de Mariana Aidar uma caixa cheia de capivaras de cerâmica. Elas são amigas há muitos anos e se conheceram por meio da causa animal. Déia e Mariana já se aventuraram para salvar muitos bichos.
“Ela me ligou um dia falando que chegaria uma caixa na minha casa. Depois perguntei para ela o que eu faria com aquilo e ela disse que eu poderia criar alguma coisa para ajudar o projeto. Liguei para diversas pessoas do ramo artístico e esportivo para que cada um pintasse uma capivarinha e vendêssemos para angariar fundos para o projeto”, conta Aidar.
Além da podcaster, o ex-piloto de Fórmula 1 Rubinho Barrichello, o jornalista e apresentador Celso Zucatelli entre outras personalidades ajudaram o Capa e pintaram as capivaras de cerâmica que estarão em exposição na ciclovia do Rio Pinheiros até 18 de maio.
Fonte: UOL
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