OPINIÃO: o massacre de burros em diversos países, inclusive o Brasil, para abastecer o mercado de medicina tradicional asiática é vergonhoso, A extração do ejiao (gelatina de couro de burro) para a produção de remédios sem nenhuma comprovação científica é vergonhoso.
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Por Júlia Zanluchi
A demanda global por peles de burro está colocando grande pressão sobre as populações, com risco de extinção provável se as tendências atuais não forem interrompidas. Aproximadamente seis milhões de burros são mortos por ano para obtenção de pele, de acordo com a ONG britânica The Donkey Sanctuary. Nos próximos cinco anos, quase metade da população mundial de burros pode ser dizimada devido à produção de ejiao.
Ejiao, produzido quando o colágeno da pele de burro é fervido e misturado com outros ingredientes, origina-se da medicina tradicional chinesa (MTC). Diz-se que oferece ao consumidor uma série de benefícios à saúde, incluindo auxílio ao sono, coagulação sanguínea mais rápida e melhoria da fertilidade. No entanto, não há provas baseadas em evidências sobre as propriedades de saúde alegadas.
Uma investigação de 2017 da PETA Ásia (People for the Ethical Treatment of Animals) revelou imagens chocantes de abusos ocorrendo na indústria de matança de burros na China. Potros com apenas cinco meses de idade foram golpeados na cabeça com uma marreta, alguns tiveram lâminas arrastadas pela garganta enquanto ainda estavam vivos, tudo para que alguém pudesse tomar uma pílula duvidosa para garantir um sono mais fácil à noite.
Muitas organizações de bem-estar animal manifestaram preocupação com o drástico declínio das populações de burros em todo o mundo. A alta demanda por ejiao e a natureza naturalmente lenta da reprodução dos burros trabalham em conjunto para garantir que o crescimento populacional permaneça difícil.
A China tinha um total de 10,3 milhões de burros vivendo no país em 1950 e hoje esse número é de cerca de 1,7 milhão. Como resultado, a China começou a buscar fontes em outros lugares, principalmente na África. Muitas comunidades africanas, que dependem dos burros para seu sustento, foram devastadas ao descobrirem que seus animais foram roubados durante a noite para atender à demanda por ejiao.
Além disso, os burros na indústria do ejiao são transportados em veículos sobrecarregados e perigosos, onde eles passam fome, tratamento desumano, métodos brutais de abate e negligência geral, permitindo que feridas dolorosas infeccionem. Seu transporte é tão bárbaro que cerca de 20% chegam aos matadouros já mortos.
Janneke Merkx, gerente de campanha do Donkey Sanctuary, explicou que já existe uma tecnologia para criar colágeno em laboratórios, o que proporcionaria à indústria de ejiao uma alternativa totalmente ética e sustentável ao colágeno derivado de burros.
Felizmente, o futuro parece promissor para os burros, pelo menos aqueles na África. Em fevereiro de 2024, os Chefes de Estado Africanos implementaram uma proibição da matança de burros para obtenção de pele, oferecendo proteção legal aos 33 milhões de burros que habitam o continente.
Fonte: ANDA
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