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Quando os mexicanos Marte Cázarez e Adrián López Velarde decidiram desenvolver juntos um material semelhante ao couro animal, usando cacto como matéria-prima, em 2017, a preocupação com os impactos da poluição ambiental os acompanhava há anos. Nascidos no mesmo dia, mês e ano, ambos compartilhavam ainda o conhecimento real sobre a quantidade de resíduos sólidos e outros poluentes gerados por indústrias ao redor do mundo. Velarde tinha experiência na indústria moveleira e automobilística, enquanto Cázarez havia atuado no ramo da moda. Eles se conheceram em Taiwan, durante um período de estudos, e ao retornar ao México passaram a trabalhar juntos.
"Nós já havíamos identificado a poluição ambiental como um problema grave e estávamos genuinamente interessados em reduzir o impacto ambiental. Por isso, decidimos deixar nossos empregos e abrir a Adriano Di Marti, uma empresa com foco no desenvolvimento da Desserto", contou Velarde ao site de notícias mexicano Fashion United.
Marca criada dentro da empresa da dupla, a Desserto é conhecida como fabricante de "pele de cacto" ou couro vegano nopal. A matéria-prima escolhida é o nopal, cacto verde de polpa viscosa e espinhos afiados, bastante representativo da cultura mexicana. A planta dispensa água para crescer e é encontrada em abundância no país. Depois de dois anos de pesquisas, os sócios chegaram ao produto comercializável com propriedades técnicas e mecânicas semelhantes ao couro de origem animal, porém sem crueldade, alto consumo de água e emissão de poluentes.
Segundo Velarde, a "pele de cacto" é resistente, respirável, flexível, macia ao toque e altamente personalizável, podendo ser produzida no tamanho, espessura e cor desejados pelo cliente. Parcialmente biodegradável, o laminado não contém PVC, ftalatos nem agentes tóxicos comumente usados para deixar o produto mais maleável.
Os sócios estimam que a durabilidade do material seja de 10 anos. Hoje, é possível aplicá-lo em roupas, acessórios, decoração de interiores e automóveis.
Plantações orgânicas
Todo cacto utilizado pela Desserto é cultivado no estado mexicano de Zacatecas, em plantações 100% orgânicas, sem uso de herbicidas ou pesticidas. Diferentemente de outros tipos de plantio, que demandam irrigação, o nopal recebe apenas água da chuva. A planta absorve a água a partir da umidade na atmosfera e age como um sequestrador natural de carbono. Uma área de 14 acres desse tipo de cacto, por exemplo, tem capacidade para absorver 8.100 toneladas de CO2 anualmente, enquanto a atividade emite somente 15 toneladas de gases por ano.
Segundo os fundadores da Desserto, são necessárias apenas três folhas de nopal para criar um metro de couro vegano. O corte envolve apenas a parte madura das folhas, sem que a planta inteira seja danificada. Após oito meses, é possível fazer uma nova colheita na mesma plantação. Cada área de plantio pode ser aproveitada por cerca de oito anos.
Redução de até 42% nos resíduos plásticos
"O impacto positivo pode resultar em uma redução de 32% a 42% nos resíduos de plástico, dependendo da versão utilizada de nossos materiais, e cerca de 20% de economia no consumo de água", comenta Velardes.
A produção do couro de cacto também apresenta baixo consumo de energia, uma vez que a secagem das folhas de nopal é feita ao sol, ao longo de três dias. Após esse processo, a matéria-prima é triturada e pulverizada até obter consistência refinada.
Em seguida, ocorre um processo de congelamento que permite extrair uma proteína do nopal. Essa substância é fundida a uma película de algodão. Ao final do processamento, os resíduos do cacto são exportados e vendidos para a indústria alimentícia nacional. A marca tem capacidade para produzir mensalmente mais de 1,2 milhão de metro de couro vegano.
Recentemente, a Desserto venceu o prêmio britânico Vegan Homeware Awards, da organização PETA, voltada aos direitos dos animais, na categoria materiais. O produto também já foi reconhecido por seu potencial sustentável em premiações na Alemanha, Austrália, Estados Unidos, França e Mônaco.
Fonte: UOL
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